Folha de S. Paulo


Funk do inglês Cymande chega ao país após hiato de décadas

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A banda britânica de afro-funk latino Cymande
A banda britânica de afro-funk latino Cymande

Recomeçar após quatro décadas é um desafio. Retomar e acertar o alvo é fenômeno.

Hoje, abrindo o festival Nublu, no Sesc Pompeia, estreia no país a banda Cymande, que atingiu picos de criatividade no começo da década de 1970 e há poucos anos retomou seus serviços -no encerramento desta edição, ainda havia ingressos para a segunda apresentação do grupo, na sexta, no Sesc São José.

Além de shows pelo mundo, gravaram um novo disco, "A Simple Act of Faith", lançado há cerca de um ano.

Criado em Londres pelo baixista Steve Scipio e o guitarrista Patrick Patterson, ambos vindos da Guiana, na América do Sul, o Cymande foi criador de estilo próprio e virou forte referência através dos anos, soando contemporâneo ainda décadas depois.

"Nossas influências iniciais eram do jazz", nota Scipio, em conversa por Skype. "Havia as inovações de Miles Davis, cruzando jazz mais tradicional com funk e com rock. Havia também o afrobeat, que começava a aparecer no Reino Unido. E, obviamente, a cena mainstream de R&B. Então, foi uma espécie de fusão de influências."

"Nossa meta era fazer música original" complementa Patterson. "Usávamos as influências para criar algo que fosse identificável como nosso. Acho que conseguimos."

Na base de tudo, a suavidade de ritmos como calipso. "Viemos para o Reino Unido crianças", lembra Scipio. "Mas a cultura caribenha já estava embebida em nós, a levamos para a vida e influenciou nosso desenvolvimento."

Em 1970, com a experiência de tocar no quarteto de jazz Metre e na banda do percussionista nigeriano Ginger Johnson, Scipio e Patterson foram atrás de integrantes para uma nova formação.

Juntaram-se com os jamaicanos Pablo Gonsales na percussão, Sam Kelly na bateria, e Mike Rose e Derek Gibbs nos saxofones, e estava formada a base do novo conjunto.

"Nosso background era essencialmente similar", comenta Scipio. "Juntando todas essas coisas, era inevitável surgir uma sinergia. É um dos elementos que podem explicar como tão facilmente fundimos nossa música em uma entidade sonora."

Alternando longos momentos instrumentais de tranquilidade melódica com momentos dinâmicos cheios de vocais, a banda incluía em suas letras retratos do momento e comentários sociais.

"Nossas letras refletiam o que acontecia na sociedade", diz Patterson. "Colocávamos questões como a consciência negra, que também surgia em músicas de James Brown e Marvin Gaye. Sempre tivemos uma pomba branca como símbolo, um símbolo de paz e amor, que é o que sempre tentamos transmitir, de um modo que cheguer a todos."

Com três álbuns lançados em três anos, com hits como "Bra", "The Message" e "Brothers on the Slide", a banda entrou no radar transatlântico da cena black dos Estados Unidos, chegando a fazer turnê ao lado de Al Green e realizar temporada no famoso Teatro Apollo, no Harlem.

Cinco anos depois de seu nascimento, em 1975, o Cymande resolveu fazer uma pausa -que acabou durando 40 anos. Já sua música sobreviveu na ativa até o novo século, sampleada dezenas de vezes, em faixas de artistas como Fugees, De La Soul e Wu Tang Clan.

Quando voltaram a se reunir, há meia dúzia de anos, os músicos viram à sua frente, felizes, uma nova audiência. "A geração hip-hop encontrou a mensagem do Cymande através de nossos ritmos", dizem, animados.

"Esperávamos um público novo nos shows, sabíamos que havia esse conhecimento pelos samples", conta Scipio. "Mas foi uma surpresa encontrar uma plateia 100% de jovens, que conheciam todas as músicas e traziam os álbuns para nos mostrar."

Cena que, já sabem, deve se repetir hoje à noite.

CYMANDE
QUANDO qui (06/04), às 21h30; sex (07/4). às 20h30, ambas com o trio Sambas do Absurdo
ONDE quinta, no Sesc Pompeia (r. Clélia, 93, tel. 11-3871-7700); sextano Sesc São José (av. Adhemar de Barros, 999, São José dos Campos); 18 anos
QUANTO de R$ 15 a R$ 50; esgotado para o Sesc Pompeia


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