Folha de S. Paulo


Análise

Último álbum de Leonard Cohen tem letras mórbidas e misteriosas

Poucos letristas da música contemporânea provocam tanta discussão e obsessão quanto Leonard Cohen. Cada vez que ele lançava um disco novo (foram três desde 2012), fãs corriam para os sites e fóruns dedicados a ele e começavam a debater os mistérios que envolviam cada uma de suas letras. O que Cohen quis dizer? E essa referência?

O mais interessante site sobre Leonard Cohen é www.cohencentric.com, uma verdadeira enciclopédia sobre o compositor que traz de análises de letras a reproduções de antigas entrevistas, de fotos da casa onde Cohen nasceu em Montreal a textos enviados por amigos e admiradores. O próprio Cohen chegou a enviar poesias inéditas para o site.

Depois do lançamento de "You Want It Darker", cohenmaníacos passaram a debater os significados das letras do disco. Como em qualquer trabalho de Cohen, este tem letras crípticas e misteriosas, cheias de alusões religiosas e espirituais. Aqui vão algumas hipóteses sobre a inspiração por trás de cada música do disco:

"You Want It Darker" - É claramente uma canção de despedida. O refrão diz: "Hineni, hineni / I'm ready my lord" ("Hineni, hineni / Estou pronto, meu senhor"). "Hineni" quer dizer "Aqui estou" em hebraico.

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"Treaty" - Uma das músicas mais bonitas do disco, parece falar de sua musa Marianne Ihlen, a norueguesa que Cohen conheceu nos anos 1960 na ilha de Hydra, na Grécia, e que inspirou canções como "Bird on the Wire" e, claro, "So Long, Marianne": "Peço desculpas pelo fantasma em que te transformei / apenas um de nós era real - e esse era eu". Marianne morreu em julho, aos 81, de câncer.

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"On the Level" - Cohen é o velho que parece conversar com uma ex-amante mais nova: "Deveriam dar uma medalha ao meu coração por deixar você / Quando virei as costas ao demônio virei ao anjo também / Agora vivo nesse templo onde me dizem o que fazer / Estou velho e tive de aceitar um novo ponto de vista".

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"Leaving the Table" - Outra letra em que o narrador se despede: "Estou deixando a mesa / estou fora do jogo". Em outro verso, faz uma autocrítica ácida: "Não preciso de um motivo para o que me tornei / Tenho essas desculpas, elas são velhas e ruins".

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"If I Didn't Have Your Love" - Cohen dá uma pausa na melancolia do disco e apresenta uma de suas letras mais românticas e apaixonadas dos últimos discos: "Se o sol perdesse sua luz / e vivêssemos uma noite eterna / e não houvesse mais nada que você pudesse sentir / assim seria / assim minha vida pareceria / se eu não tivesse o seu amor para torná-la real".

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"Traveling Light" - O título quer dizer "Viajando com pouca bagagem", mas o sentido, claramente, é o de uma vida que termina: "Estou viajando com pouca bagagem / é au revoir / minha estrela um dia tão brilhante e hoje cadente / estou atrasado / eles vão fechar o bar".

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"It Seemed the Other Way" - Cheia de alusões religiosas, parece falar de uma crença destruída: "Parecia o melhor caminho / quando o ouvi falar pela primeira vez / agora é tarde demais / para virar a outra face".

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"Steer Your Way" - Publicada como poema na revista "The New Yorker", é outra letra repleta de alegorias religiosas, em que o narrador lamenta alguma decepção com a fé: "Direcione seu caminho ao largo da Verdade em que ontem você acreditava".

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