Folha de S. Paulo


Artistas unem arte contemporânea e danças típicas para criar obras vivas

A dança chegará à Bienal logo na abertura para convidados da 32ª edição do evento, cujo tema é incerteza viva, na terça-feira (6).

Ali, no pavilhão Ciccillo Matarazzo, nascerá a escultura "Uma Coluna", do gaúcho radicado no Recife Cristiano Lenhardt, depois que 60 bailarinos concluírem a dança tradicional do pau de fita.

Serão 20 performers em cada andar, refazendo a ciranda folclórica em que os dançarinos executam uma coreografia em zigue-zague trançando fitas coloridas ao redor de um mastro. Na recriação contemporânea de Lenhardt, as fitas são de plástico e pretas.

Aos dançarinos, caberá entrelaçar uma coluna que atravessa os três andares do pavilhão da Bienal enquanto entoam sons semelhantes a um mantra.

A união de danças tradicionais e arte contemporânea continua com a performance da polonesa Iza Tarasewicz. A artista apresentará os primeiros resultados de "Mazurka", sua pesquisa sobre a dança de origem camponesa transformada em dança de salão no século 19.

O projeto de Tarasewicz é pesquisar como o ritmo dançado desde o século 16 por trabalhadores braçais na Polônia se espalhou pelo mundo. A mazurca se popularizou na Europa graças a obras de músicos eruditos como Frédéric Chopin (1810-49), mas o estilo também pode ser encontrado no Caribe, na África e no Brasil.

"Sou escultora, não coreógrafa, mas estou interessada nessa linguagem universal da música e da dança. Por isso, aproveitei minha residência de dois meses no Brasil para essa pesquisa."

A intenção não é buscar a mazurca erudita, bem documentada e conhecida, mas traçar os passos da dança tradicional e, a partir daí, recriá-la em uma performance contemporânea. "A mazurca é muito rápida, dançada em duplas, em giros, causando uma espécie de transe. É isso o que me interessa", diz a artista.

DESAFIO ÀS TRADIÇÕES

Para Júlia Rebouças, cocuradora da Bienal, várias obras desta edição orbitam tradições. "Há um interesse em questionar narrativas históricas, quase desafiando as tradições, mas também resgatando essas culturas e seus saberes", diz.

Nessa linha, Tarasewicz encontrou no jongo, dança afro-brasileira, um caminho para ao mesmo tempo recuperar e transformar a mazurca tradicional.

"São ritmos diferentes, mas têm em comum coisas essenciais. São danças de liberdade, com muita improvisação", afirma. Participam da criação o grupo de jongo da associação Cachuera!, de São Paulo, e os músicos Filpo Ribeiro, na rabeca, e Gabriel Levy, no acordeon.

A performance será apresentada na quinta (8), às 20h, em um espaço próximo a escultura "Turba, Turbo", a outra obra que a polonesa exibe nesta Bienal. A instalação, que lembra o colisor de hádrons do CERN, trabalha com as estruturas circulares e com a ideia de velocidade –como a mazurca", lembra Taresewicz.

Na obra da peruana Rita Ponce de Leon, a relação entre dança e escultura foi primordial para a execução do trabalho. "Na forma de nós mesmos", suas estruturas penetráveis cobertas por argila do Alto Amazonas, foram modeladas a partir dos movimentos de dançarinos de butô. E o público é convidado a criar sua própria coreografia ao acomodar braços, pernas, rosto e tronco nas cavidades das esculturas.

Além da dança ao vivo, a Bienal terá dança filmada.

A coreógrafa e bailarina argentina Cecilia Bengolea e seu parceiro Jeremy Deller vão mostrar o vídeo "O Sonho de Bombom", mistura de documentário e ficção sobre a competição Dance Hall Queen, na Jamaica.

O estilo, mistura de baile funk com acrobacias, é tratado pela dupla a partir das características de afirmação de identidade e resistência da dança, linha de pesquisa dos coreógrafos.


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