Folha de S. Paulo


Livro inacabado de García Márquez volta ao tema da prostituição

Faltava pouco para García Márquez colocar um ponto final no romance "Em Agosto Nos Vemos", mas o escritor não estava contente com o fim da história e, obsessivamente, trabalhava para melhorá-lo. Não deu tempo: em abril do ano passado, Gabo morreu no México, aos 87 anos.

Até hoje, conhecia-se apenas o primeiro capítulo, que ele leu em público e que teve trechos reproduzidos pela mídia. Com a abertura do arquivo em Austin, se saberá como segue a história de Ana Magdalena Bach, uma mulher de meia-idade, casada, que uma vez por ano viaja até uma cidade da costa colombiana para visitar a sepultura da mãe.

Numa dessas ocasiões, tem um encontro sexual com um desconhecido, no hotel em que se hospeda. Ele sai de fininho antes do amanhecer, mas deixa a ela US$ 20.

"Nessa obra inacabada, García Márquez volta ao tema da prostituição, que era também o do universo do romance mais recente, 'Memórias de Minhas Putas Tristes' [2004]", diz Héctor Feliciano.

Porém, não se sabia se a mulher, que até então só havia feito sexo com o marido, continuaria nesse caminho do sexo por dinheiro.

A trama contém ainda outros elementos recorrentes na obra de Gabo: as superstições do povo da costa com relação aos mortos, os tabus daquela sociedade e a fatalidade do destino de cada um.

Além de "Em Agosto Nos Vemos", o Nobel ainda trabalhava no segundo volume de suas memórias, que daria continuidade a "Viver para Contar", lançado em 2002. "Ele já tinha escrito e juntado muito material para isso. A ideia inicial era fazer três tomos de memórias. Infelizmente, ficou apenas no primeiro", completa Feliciano.

A editora Random House propôs à família lançar seus escritos como obras inacabadas. A viúva, Mercedes, e os filhos disseram não.


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