Folha de S. Paulo


Diretor americano Bob Wilson planeja peça sobre Mané Garrincha

Desde abril de 2012, o diretor Bob Wilson, um dos grandes nomes do teatro experimental americano desde os anos 1960, montou no Brasil cinco espetáculos teatrais e uma ópera. Segundo uma convocação por e-mail recebida por atores de São Paulo neste mês, vem um novo projeto por aí, e o perfil é inédito.

Na tarde desta terça (29), o Sesc São Paulo organizou uma audição a partir da qual serão escolhidos intérpretes para uma próxima produção exclusivamente nacional assinada por Wilson. A seleção foi realizada no Sesc Pinheiros. O diretor não estava presente; no lugar dele, um assistente realizou a prova.

Em 2013, já houve uma produção de Wilson, em parceria com o Sesc e com atores brasileiros, a peça "A Dama do Mar". Mas a concepção datava de 1998, tinha texto de Henrik Ibsen (1828-1906) adaptado por Susan Sontag (1933-2004). Em outras palavras, tratava-se de uma reencenação, não de um espetáculo 100% nacional.

As audições no Sesc Pinheiros apontam agora que inclusive o texto da nova produção de Wilson pode ser escrito por um brasileiro, seguindo um projeto sobre o qual o Sesc e o diretor conversavam havia cerca de três anos.

A Folha apurou que a intenção do americano é criar um espetáculo sobre futebol, cujo protagonista será Mané Garrincha (1933-1983).

Nos testes, também foi pedido para que os atores cantassem, ou seja, são fortes as chances de ser um musical.

O escritor Ruy Castro, autor de "Estrela Solitária "" Um Brasileiro Chamado Garrincha", biografia do jogador, diz ter sido procurado pela produção do novo espetáculo e comparecerá, nesta sexta (2/10), a uma reunião com o cineasta, crítico e ensaísta Carlos Augusto Calil, que estaria na função de coordenar pesquisas sobre o tema.

À Folha, Ruy afirmou não saber o que será abordado na reunião.

Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo, não confirmou informações sobre o projeto, cuja estreia estaria programada para maio do ano que vem.

"Nada pode ser confirmado. Temos o interesse de levar o espetáculo adiante, mas precisaremos de avanços mais concretos para efetivarmos essa parceria", diz.

Segundo Miranda, Wilson sempre demonstrou "desejo muito grande" de trabalhar com a cultura brasileira.

"Ele já fez Brecht e Goethe com os alemães, recriou a vida de Clementine Hunter [pintor] com os americanos e agora está interessado na vida de Garrincha, depois que contei a ele sobre a personalidade absolutamente extraordinária desse anti-herói nacional", diz.


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