Folha de S. Paulo


Filme francês 'Dheepan', de Jacques Audiard, leva a Palma de Ouro de Cannes

Números musicais constrangedores. Discursos longos. Entrevistas com participação de internautas.

O 68º Festival de Cannes terminou, neste domingo (24), com uma tentativa frustrada de virar um Oscar europeu e um senso de nacionalismo que surpreendeu, com a vitória do drama/thriller francês "Dheepan", de Jacques Audiard ("O Profeta"), na Palma de Ouro, principal prêmio do evento.

"Todos nós ficamos entusiasmados com detalhes de vários filmes, mas esse foi uma escolha unânime", disse o diretor americano Ethan Coen, presidente do júri ao lado do irmão, Joel, que se irritou quando questionaram a escolha do vencedor.

"É um prêmio, de certa forma, estético. O júri não é formado por críticos de cinema, mas por um grupo de artistas", reclamou, após responder perguntas de internautas via Twitter e Facebook.

"Dheepan", no entanto, é um filme interessante, por trafegar por diversos gêneros ao contar a história de um ex-membro do Tamil Tigers, grupo separatista do norte do Sri Lanka, que emigra para Paris com uma mulher e uma filha falsas -todos fugindo da guerra civil no país.

Na Europa, convivem com novas batalhas: uma para adaptar-se à cultura e outra contra traficantes de drogas. Tema pertinente em um continente que vê histórias trágicas de barcos com imigrantes chegando ao Mediterrâneo e debate o controle imigratório.

"É importante refletir sobre essa situação, mas quando comecei a escrever o roteiro, há cinco anos, a situação na Europa não era tão crítica", explicou o diretor Jacques Audiard, após a premiação. "O que me interessava era entender como vivem essas pessoas que vendem rosas em cafés. Se o filme ajudar a discussão, melhor."

PRÊMIO CASEIRO

No primeiro ano de presidência de Pierre Lescure, ex-homem forte do Canal+, a mais poderosa emissora de televisão da França, o bairrismo ficou bem claro.

Não apenas nos cinco filmes franceses na competição -que chegam a nove contando as coproduções- mas na premiação. Apesar da vitória esperada de Vincent Lindon como ator pelo irregular "La Loi du Marché", a divisão do prêmio de melhor atriz para a americana Rooney Mara ("Carol") e a francesa Emmanuelle Bercot ("Mon Roi") foi vaiada na sala de imprensa.

"Foi como uma partida de xadrez. Tentamos reconhecer a qualidade do máximo possível de bons momentos da competição", disse Joel.

Com a vitória francesa na Palma de Ouro, os dois outros favoritos dividiram outros prêmios. O húngaro "Saul Fia", de László Nemes, filme mais poderoso da mostra competitiva, ficou com o Grand Prix, uma espécie de medalha de prata em Cannes.

Enquanto isso, o taiwanês "The Assassin" rendeu o prêmio de melhor direção para Hou Hsiao-Hsien.

A surpresa da noite também veio no formato adotado pelo "novo Cannes". A cerimônia começou um pouco mais cedo que o normal, com uma coreografia de dança interativa com dois telões.

Antes da entrega do primeiro prêmio, o ator americano John C. Reilly subiu ao palco para um número musical esquisito -e desafinado. Com textos piegas em cada categoria e discursos longos, a cerimônia só não deu sono porque durou apenas uma hora.

Talvez Cannes vá fundo na imitação e adote a musiquinha que corta os discursos do Oscar, em Hollywood.

PREMIADOS

Palma de Ouro - "Dheepan", de Jacques Audiard (França)

dheepan

Grand Prix - "Saul Fia", de Lászlo Nemes (Hungria)

saul

Melhor diretor - Hou Hsiao-hsien, por "The Assassin" (Taiwan)

assassin

Melhor ator - Vincent Lindon, por "La Loi du Marché" (França)

la loi

Melhor atriz - Rooney Mara ("Carol")

carol

e Emmanuelle Bercot ("Mon Roi")

mon roi

Melhor roteiro - "Chronic", de Michel Franco (México)

chronic

Prêmio do júri - "The Lobster", de Yorgos Lanthimos (Grécia)

lobster

Caméra d'Or (melhor filme de estreia) - "La Tierra y La Sombra", de César Augusto Acevedo (Colômbia)

tierra y sombra

Curta - "Waves '98", de Eli Dagher (Líbano/Qatar)


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