Folha de S. Paulo


Último dia do Rock in Rio Las Vegas vira programa musical gastronômico

O quarto e último dia do Rock in Rio Las Vegas, neste sábado (18), acabou se transformando em um programa musical gastronômico. O público na Cidade do Rock se dividia entre ver os shows e passear pelas três Rock Streets, "ruas" temáticas dedicadas a Brasil, Inglaterra e Estados Unidos, com bares, restaurantes e um palco pequeno em cada uma.

Com o triplo de espaço que a área tem no Brasil, foi formada uma "praça" gramada, com uma roda-gigante no centro. Entre as milhares de pessoas circulando por ali na noite de sábado estava o empresario Roberto Medina, andando tranquilo com familiares. Ninguém percebia a presença do criador do Rock in Rio.

A estrutura foi montada em uma grande área urbana pertencente à MGM, gigante do entretenimento que acertou parceria com o Rock in Rio para três edições em Las Vegas (as outras estão previstas para 2017 e 2019). O local pode receber até 85 mil pessoas por dia.

Com 172 mil ingressos vendidos em quatro dias, metade da capacidade de público, esta foi a primeira investida no mercado americano do festival criado em 1985 no Brasil e que já teve seis edições em Lisboa e três em Madri desde os anos 1990. A sexta edição no Rio de Janeiro está marcada para setembro, com ingressos esgotados.

Foram quatro dias divididos em dois fins de semana. Um deles dedicado ao rock, o outro, voltado ao pop. As bandas que encerraram as noites roqueiras foram No Doubt (sexta, dia 8) e Metallica (sábado, 9). No pop, as atracões principais foram os cantores Taylor Swift (sexta, 15) e Bruno Mars (16).

O quarto dia absorveu o clima de fim de festa. Foram shows tranquilos, mesmo com o ímpeto dançante de Mars, a eficiência de John Legend e uma apresentação para lá de apoteótica do grupo Empire of the Sun.

Mars despejou um caminhão de sucessos de anos recentes e mostrou que sabe entreter plateias de qualquer tamanho. Aparentou estrelismo ao não permitir o trabalho dos fotógrafos em seu show. O público, sem ter nada a ver com isso, vibrou com hits mundiais como "Billionaire", "Just the Way You Are" e "Uptown Funk".

John Legend cantou e tocou piano por 70 minutos de pop elegante e algum balanço. O americano joga na tradição, compensando um show sem surpresas com a voz afinadíssima e interpretações emocionadas. Ele cantou "Glory", música que ele gravou para o filme "Selma" e que levou o Oscar deste ano.

Já os australianos do Empire of the Sun trouxeram imagens delirantes no telão, música épica e suas roupas que misturam figurinos de seriados do Flash Gordon dos anos 1930 com roupas da corte francesa do século 18.

Na parte sonora, a mistura é ainda mais complicada. O Império do Sol vai de música japonesa a rock progressive tão fácil quanto vai das batidas dance a ecos de trilhas de Ennio Morricone. Quando fecharam o show com o hit "Alive", dava a impressão de estar encerrando o próprio Rock in Rio Las Vegas.

Antes, na abertura do palco principal, o rapper Big Sean, apadrinhado de Kanye West, cantou entre o agressivo e o engraçado. Apesar de seu terceiro álbum, "Dark Sky Paradise", lançado neste ano, ter ido ao topo da parada da Billboard, o repertório é um tanto desconjuntado. Precisa comer muito feijão para chegar próximo da força musical do padrinho.

No palco secundário, três shows fracos exibiram as limitações da banda canadense de pop e reggae Magic! e dos cantores Mayer Hawthorne, que trocou o soul pelo pop, e Mikky Ekko, que vive da fama de participar de "Stay", single de Rihanna.

Apenas a cantora Joss Stone fez ali um show mais encorpado. Graciosa e de vozeirão, ela é bem conhecida do público brasileiro, depois de uma dezena de passagens pelo país. Ela montou a apresentação equilibrando o repertório entre soul clássico e canções moderninhas.

O jornalista THALES DE MENEZES viajou a convite do festival


Endereço da página:

Links no texto: