Folha de S. Paulo


Pioneiro da performance, Chris Burden morre aos 69 em Los Angeles

Um dos nomes mais influentes da história da performance, o artista norte-americano Chris Burden morreu neste domingo, aos 69, em sua casa em Los Angeles. Ele sofria de um câncer de pele havia mais de um ano.

Burden é um dos nomes mais influentes das artes visuais na segunda metade do século 20. Ele despontou no circuito nos anos 1970, a era conhecida como o auge da performance, quando artistas passaram a investigar as possibilidades de uma arte invendável contra as forças de um mercado cada vez mais voraz.

Sua obra mais conhecida é a performance "Shoot", de 1971, em que pediu para um amigo atirar em seu braço com um rifle em plena galeria de arte. Era uma alusão ao trauma causado pela Guerra do Vietnã, que caminhava então para o fim com uma escalada de violência.

Rossana Magri
Instalação do artista plástico norte-americano Chris Burden, em Inhotim (MG)
Instalação do artista plástico norte-americano Chris Burden, em Inhotim (MG)

"Fiz essa performance durante a guerra, quando milhares de garotos da minha idade eram alvos de disparos", lembra Burden, em sua última entrevista à Folha, há seis anos. "Planejei tudo. Era para a bala passar de raspão e fazer rolar só uma gota de sangue."

Por causa dessa e de outras obras, como a performance em que foi crucificado na carroceria de um Fusca ou a ação em que ficou dias trancado num armário, Burden se tornou uma das vozes mais influentes de sua geração e formou uma leva de artistas que frequentavam suas aulas na Cal Arts, em Los Angeles, uma das escolas de arte mais prestigiosas dos Estados Unidos.

Nos últimos anos, Burden se tornou conhecido fora dos Estados Unidos e da Europa com obras que realizou no Brasil. O Instituto Inhotim, megamuseu do magnata do minério Bernardo Paz nos arredores de Belo Horizonte, encomendou uma nova versão de sua famosa escultura "Beam Drop".

Essa obra criada nos anos 1980 em Nova York consistia em despencar do alto de um guindaste uma série de vigas metálicas numa piscina de concreto molhado. Depois de seco, o cimento seguraria as peças no lugar como num jogo de palitos congelado no espaço.

Em Minas Gerais, a obra foi refeita com a mesma escala e potência que sua primeira versão nova-iorquina, destruída depois que o terreno onde estava foi vendido e transformado em escola.

É uma das peças mais importantes de sua trajetória por misturar a carga viril de obras dessa época à noção de caos que ganhou força no ambiente pós-moderno, ou seja, uma crítica velada ao planejamento utópico associado à arquitetura da chamada fase heroica do modernismo.

"Se eu fosse Deus, faria todas as vigas caírem ao mesmo tempo", dizia Burden. "Prefiro sempre o caos. Estou sendo subversivo. É infantil jogar vigas de aço sem propósito dentro de um buraco, é brincar com a ideia de prédio moderno."

Também no museu mineiro, Burden tem um pavilhão em que instalou uma catraca que pressiona as paredes do prédio em direções opostas cada vez que um visitante entra no espaço, contando os passos para que o edifício em algum momento desabe sobre a sua estrutura.

Divulgação
Chris Burden leva tiro no braço durante a performance
Chris Burden leva tiro no braço durante performance "Shoot", em 1971, em resposta à Guerra do Vietnã

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