Folha de S. Paulo


Ataques de Marta a Juca surpreendem meio artístico

As críticas da senadora e ex-ministra da Cultura Marta Suplicy (PT-SP) ao retorno de Juca Ferreira ao comando da pasta no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT) causaram surpresa no meio artístico e cultural.

O estranhamento se dá principalmente porque Marta retomou projetos idealizados durante o período de Juca na pasta no governo Lula, como secretário-executivo de Gilberto Gil entre 2003 e 2008 e ministro entre 2008 e 2010.

Anteontem, após o anúncio do novo ministro, Marta escreveu no Facebook que a "população brasileira não faz ideia dos desmandos que este senhor promoveu à frente da Cultura brasileira".

Editoria de Arte/Folhapress

Procurado, Juca não quis comentar o ataque de Marta. "Não li, não me interessa, não tenho nada a falar sobre isso", disse à Folha, por telefone.

As críticas a Juca surgem geralmente de setores ligados à ex-ministra Ana de Hollanda (2011-12), que rompeu com políticas dele, e de segmentos da indústria cultural contrários a posições defendidas por Juca, como a flexibilização de direitos autorais.

"Sobre sua gestão no MinC, anterior à minha, não nego alguns méritos. No entanto, não há como negar que a herança que me deixou foi bastante caótica", afirmou Ana de Hollanda à Folha, nesta quarta.

Ela disse ainda que suas críticas ao futuro ministro já tinham sido publicadas anteriormente no Facebook. Ela classifica Juca como "político de personalidade polêmica, extremamente belicista". Para Ana, Juca tem pouca relação ou conhecimento da complexa realidade do mundo da cultura.

REPERCUSSÃO

A Folha ouviu artistas e empresários do setor cultural sobre as críticas de Marta. Eles se dividem entre apoiadores e críticos à escolha do novo ministro, mas os dois grupos se dizem incapazes de explicar as declarações de Marta.

"Juca representa vários grupos de negócios articulados que enxergam no Minc uma oportunidade de negócios e certamente farão altos negócios com subsídios de todos os brasileiros", afirmou o sociólogo e colunista da Folha Demétrio Magnoli.

Já Ivana Bentes, professora de comunicação da UFRJ, elogia o novo ministro. "É uma virada simbólica e de reencantamento da política no governo Dilma, que recoloca a cultura no centro do debate."

Para os entrevistados pela Folha, as declarações de Marta parecem mais políticas do que propriamente culturais.

O descontentamento dela em relação a Juca começou quando ele assumiu a coordenação da área de cultura da campanha de Dilma. Num comício, a ex-ministra escutou pedidos de "Volta, Juca". Marta também tem desavenças com Dilma por ter apoiado a volta de Lula (leia abaixo).

Antes das eleições, Marta e Juca eram mais alinhados. No MinC, ela conseguiu articular a aprovação de projetos idealizados por Gil e Juca, que não tiveram força política para levá-los adiante no Congresso.

O Vale-Cultura, por exemplo, acabou se tornando bandeira de ambos. O benefício de R$ 50 mensais para gastos com atividades culturais havia sido lançado em 2009 por Juca e só foi aprovado graças a Marta.

DILMA E LULA

A presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e parte do PT demonstraram contrariedade, nos bastidores, com as críticas públicas da senadora e ex-ministra da Cultura Marta Suplicy à escolha do ex-ministro Juca Ferreira para assumir a pasta.

A Folha apurou que Lula não gostou da afirmação de que sua gestão abrigou desmandos na área de cultura.

O ex-presidente trabalhava pela permanência de Marta no PT. Agora, segundo pessoas próximas, a tendência é a de que Lula não se esforce para mantê-la no partido.

Ao deixar o ministério, Marta criticou a política econômica do governo, o que já havia contrariado Dilma.

A então ministra da Cultura também era vista como incentivadora do "volta Lula" em resposta às incertezas sobre a reeleição de Dilma.

Após retomar o mandato de senadora, Marta admitiu que pode trocar o PT por outro partido para disputar a Prefeitura de São Paulo em 2016.

Integrantes do PT afirmam acreditar que a senadora está tentando ser expulsa do partido ou em busca de um argumento jurídico, como perseguição interna, para trocar de legenda sem risco de perder o mandato no Senado por infidelidade partidária.

(FERNANDA REIS, GUILHERME GENESTRETI, JULIANA GRAGNANI, KARLA MONTEIRO, GABRIELA SÁ PESSOA, MATHEUS MAGENTA E ANDRÉIA SADI)

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