Você não conhece Assis Valente? Compreensível.
Em entrevista a Nelson de Sá publicada neste caderno, Christian Rudder, autor de "Dataclysm", um compêndio sobre a era digital, revelou qual o dado mais significativo que achou nas pesquisas para seu livro: as pessoas escrevem cada vez mais sobre o presente e se esquecem mais rápido do passado.
Assis Valente que o diga.
Só a amnésia histórica –aliada à rejeição atávica de certa gente brasileira pela cultura do país, para quem o som gringo é o que presta– explicaria que este gigante da MPB chegue aos nossos dias quase como um desconhecido das novas gerações.
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O compositor Assis Valente em 1951, diante de painel com os Arcos da Lapa, no Rio |
Sintomático, para esses moços, pobres moços, é gostar tanto de música gringa e ignorar que eles, os gringos, amam e respeitam a nossa música como algo sublime, entre as melhores coisas que o país conseguiu criar.
Com a veia satírica dos melhores cronistas, desde as primeiras canções Assis Valente caçoava da afetação dos que recorrem ao que é de fora para disfarçar sua jequice, como em "Tem Francesa no Morro" e "Good-Bye, Boy".
Em "Camisa Listada", brinca com o bacana que "tirou o anel de doutor pra não dar o que falar", trocou o chá com torradas por cachaça, vestiu-se de mulher e caiu na gandaia.
Suas músicas foram revigoradas nos anos 70 por Novos Baianos, Chico, Nara e Bethânia e, mais recentemente, por Adriana Calcanhotto, Paula Toller e Vanessa da Mata.
A vasta pesquisa de Gonçalo Junior revela que a vida de Assis Valente –fugas, drogas, depressão, suicídio– é tão fantástica quanto a sua obra.
Sem ufanismo, que é coisa para cretinos, mas passou da hora dessa gente bronzeada saber de seu próprio valor –e do valor de Assis Valente.