Folha de S. Paulo


Tommy Lee Jones fala sobre os cinco filmes que o influenciaram

"Creio que o western como gênero de cinema seja definido pela presença de cavalos e homens de chapelão", disse Tommy Lee Jones recentemente.

Ele estava falando de "The Homesman", seu novo filme, que tem cavalos e um chapelão ou dois, mas isso foi o mais perto que ele chegou para definir a produção, que estreou em maio deste ano no Festival de Cinema de Cannes, conquistando críticas em geral positivas. O filme não tem data prevista para chegar ao Brasil.

"The Homesman", baseado em um romance de Glendon Swarthout lançado em 1988, é o quarto filme dirigido por Jones (ele também é o protagonista, e colaborou no roteiro), e seu primeiro trabalho desde que ele conquistou prêmios e elogios em Cannes por "Três Enterros" (2005).

O longa de 2005 também mostrava cavalos e homens com chapelões, mas Jones, nascido no Texas, insiste não ter interesse especial no western, como gênero. "O que tenho é interesse por fazer filmes sobre a história do meu país, da terra onde vivo", ele afirmou. "Qualquer pessoa que deseje ser artista produz obras sobre a terra em que vive".

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O ator e diretor Tommy Lee Jones durantes as gravações de seu último filmes, 'The Homesman'
O ator e diretor Tommy Lee Jones durantes as gravações de seu último filmes, 'The Homesman'

Jones disse que a gênese de seus esforços como diretor está sempre em uma história que capture sua imaginação. "The Homesman", que começa em um assentamento de fronteira no Nebraska, por volta de 1835, é a história de Mary Bee Cuddy (interpretada por Hilary Swank), uma mulher independente, corajosa e solteira que aceita transportar três outras mulheres, que enlouqueceram por conta das dificuldades da vida na fronteira, de volta a Iowa, para entregá-las aos cuidados de uma igreja.

Antes de partir, ela encontra George Briggs (Jones), um sujeito desajeitado e sem rumo, pendurado de uma árvore pelo crime de grilagem de terras. Em troca de salvá-lo, ela requer que Jones a acompanhe em sua jornada, e seu relacionamento, enquanto percorrem as terras selvagens e austeras da região (fotografadas com beleza severa por Rodrigo Prieto), e enfrentam os indígenas locais, o clima inclemente e verdades pessoais ainda mais duras, tem posição central no filme.

"Eles não estão viajando para o oeste para conquistar terras inóspitas; estão voltando ao leste para sobreviver", diz Jones. "'The Homesman' não é um western, mas um filme sobre a história das mulheres da minha família". Ele acrescenta que "não acredito que exista uma mulher no mundo que não tenha sido trivializada ou objetificada em função de seu sexo".

As influências do filme, diz Jones, incluem o teatro kabuki japonês, e artistas plásticos, poetas e escultores. "Pedi que Merideth Boswell, minha talentosa diretora de arte, estudasse cuidadosamente o trabalho de Josef Albers, Donald Judd e fotos da época", ele disse. "A geometria importava muito para nós nesse filme, e os artistas minimalistas eram mais apropriados para nossa aventura visual do quaisquer outros". E, sim, filmes, e até mesmo alguns westerns, foram importantes, também.

Jones falou sobre cinco filmes que têm importância pessoal para ele.

"The Ropin' Fool", de Clarence Badger e estrelado por Will Rogers (1922):

"Se você está falando sobre cavalos, chapelões e autenticidade, 'The Ropin' Fool', estará no topo da lista. Quase nem é um filme, porque traz pouquíssima narrativa, mas você pode ver o que Rogers era capaz de fazer com uma corda".

"Ele era ator de vaudeville e caubói, e um completo gênio com a corda. Isso é especialmente bonito para mim, porque cordas fizeram parte do ganha-pão de minha família por muitas gerações. Quando nasci, meus avós foram corajosos o bastante para levar minha mãe à cidade, a uma pequena clínica. A visita custou US$ 40, e por isso meu tio Charlie foi de cavalo à cidade e entrou em um concurso de laço. Ele ganhou, e usou o dinheiro para pagar pelo meu parto".

"O Anjo e o Bandido", de James Edward Grant, com John Wayne (1947):

"Acho esse filme maravilhoso. O tema é um estudo do contraste moral entre um filho selvagem do oeste e uma garota quaker. E há uma questão real em jogo, que é a da água. É um filme de visual bonito, e o começo da carreira real de Wayne como ator. Esse é o filme em que ele mostra os primeiros traços daquilo que viria a se tornar: um ator de cinema magistral".

"A Última Sessão de Cinema", de Peter Bogdanovich (1971):

"Qualquer filme que nos ofereça o prazer de assistir a Ben Johnson montado a cavalo terá de ser bom de alguma maneira. Ele era campeão mundial de rodeio e ator, e consegue ocupar completamente uma tela de cinema, como uma figura no horizonte. Ele nos mostra, algo que fica visível em 'The Homesman', como essas pessoas se relacionavam com seus animais. Não era antropomórfico ou sentimental. Eles eram parceiros na luta pela sobrevivência".

"Sonhos", de Akira Kurosawa (1990):

"Há outros bons diretores japoneses, mas o trabalho de Kurosawa é muito importante para mim em termos de composição e movimento. 'Sonhos' é muito bonito, muito onírico e mágico, mas também completamente real".

"Tentamos coisa parecida em 'The Homesman'. George Briggs, quando o vemos pela primeira vez, de cuecas e tropeçando depois que sua casa foi explodida, faz uma pequena dança, com a cara preta de carvão, como se poderia ver em um teatro kabuki em Tóquio. Mas é um western. E se passa em 1835.

"Os Imperdoáveis", de Clint Eastwood (1992)

"Admiro tudo que Clint Eastwood faz. Gosto do jeito que ele comanda uma filmagem. Eu adoraria poder assisti-lo trabalhando o dia todo. E já o fiz. Se a pergunta é sobre westerns de que gosto, eu teria de incluir 'Os Imperdoáveis'. O filme é entretenimento, mas existem questões em discussão: lei e ordem, o tratamento das mulheres, problemas de identidade pessoal. Além disso, a cor é linda, e o filme é engraçado. É maravilhoso sob todos os aspectos. Se eu tivesse uma lista de heróis, Clint estaria nela".


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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