Folha de S. Paulo


Bailarinos refazem rota da seda e do jazz em remontagem em SP

A Raça Cia. de Dança começou uma temporada em São Paulo para comemorar seus 30 anos de existência.

O espetáculo em cartaz no Teatro das Artes, no shopping Eldorado, é ao mesmo tempo uma homenagem à fundadora da companhia, a coreógrafa paulistana Roseli Rodrigues (1955-2010) e o início de uma nova fase do grupo.

Essa função dupla surge de diferentes formas nas coreografias apresentadas, "Caminho da Seda" e "Ágape".

Karime Xavier/Folhapress
Bailarinos da Raça Cia. de Dança ensaiam 'Caminho da Seda' no Teatro das Artes, em SP
Bailarinos da Raça Cia. de Dança ensaiam 'Caminho da Seda' no Teatro das Artes, em SP

A primeira é uma remontagem da obra criada em 2001 por Rodrigues, uma das mais conhecidas da Raça que, nessas três décadas, acumulou mais de 80 prêmios.

"Caminhos..." refaz a rota da seda entre o Oriente e o Ocidente com uma coreografia de corpos e tecidos. Em cena, 13 bailarinos e 200 metros de seda, que dança tanto quanto os jovens integrantes da companhia.

"A Roseli adorava artifícios cênicos, mas o tecido é mais do que isso. Ela coreografou a movimentação da seda e os bailarinos têm que se adaptar à energia e à beleza plástica desses panos balançando", diz Jhean Allex, diretor artístico da Raça.

Allex entrou na companhia aos 15 anos, como bailarino, e acompanhou a evolução do trabalho de Rodrigues —ela começou com o jazz e passou para o contemporâneo, unindo essas duas linguagens.

APELO AO JAZZ

Nos anos 1980, o jazz era um sucesso de público no Brasil, mas não era reconhecido pela "alta cultura".

"O estilo tem apelo, paixão, emoção e as pessoas adoram. Mas não entrou no repertório das 'belas artes', como a dança contemporânea, que Roseli incorporou ao seu trabalho", diz Cássia Navas, pesquisadora de dança e professora do Instituto de Artes da Unicamp.

Para a pesquisadora Marcela Bevegnu, que coordena o setor de educação e memória da São Paulo Companhia de Dança, o jazz é uma linguagem tão sofisticada quanto as outras, mas que acabou associado à "dança de academia".

"A Raça mostrou que jazz tem qualidade, pesquisa, história. Mesmo as coreografias contemporâneas da companhia usam referências jazzísticas, como as entradas e saídas do palco", diz Bevegnu.

A forma como Rodrigues transitou por essas duas linguagens fica aparente em "Ágape", a outra coreografia em cartaz.

Concebida por Allex, a obra reúne trechos de outras montagens famosas da Raça: "Cartas Brasileiras", "De Minh'alma", "Novos Ventos" e "Tango sob Dois Olhares".

"'Ágape' não é uma linha do tempo, mas sim uma fusão de linguagens que torna viva a memória do trabalho de Roseli", afirma Allex.

Como em toda remontagem, as obras são as mesmas, mas a dança é sempre outra. "Não dá para guardar coreografias num museu, elas têm de ser dançadas. É isso que significa trabalhar na linha de continuidade", diz Navas.

RAÇA CIA DE DANÇA - CAMINHO DA SEDA E ÁGAPE
QUANDO quartas-feiras, às 21h30; até 16/7
ONDE Teatro das Artes, shopping Eldorado, av. Rebouças, 3970, 3º piso, tel. (11) 3034-0075
QUANTO R$ 50
CLASSIFICAÇÃO 12 anos


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