Folha de S. Paulo


Liam Neeson fala sobre virar, aos 60, xodó de Hollywood em filmes de ação

A meia-idade tirou o ator Liam Neeson, 61, do sério.

Se ganhou projeção graças a filmes ancorados em personagens históricos, como "A Lista de Schindler" (1993), "Rob Roy" (1995) e "Michael Collins" (1996), o irlandês praticamente aposentou o figurino de época na última meia década. No lugar deste, entraram pistolas automáticas e escopetas de última geração, desembainhados quando chaves de braço e gravatas não dão cabo do inimigo.

Neeson é hoje o nome mais rentável do cinema de ação europeu-americano, enfileirando óbitos e sucessos de bilheteria desde "Busca Implacável" (2008), que arrecadou nove vezes o seu orçamento. "Sem Escalas", que estreia nesta sexta (28) no Brasil, confirma sua opção por essa trilha, por onde já andou em "Desconhecido" (2011), "A Perseguição" (idem) e, é claro, "Busca Implacável 2" (2012) —franquia que logo deve ganhar um terceiro título.

No filme de agora, o ator encarna Bill Marks, afastado das funções de "air marshal" (agente responsável pela segurança em aviões comerciais) por conduta errática. Durante um voo Nova York-Londres, ele recebe mensagens anônimas de celular dando conta de que um passageiro morrerá a cada 20 minutos se US$ 150 milhões não forem depositados em certa conta bancária.

Chamado ao dever, o agente será enquadrado pelos ex-colegas em terra como principal suspeito da ameaça que diz combater —é ele, afinal, o titular da tal conta. Só a vizinha de poltrona Jen (Julianne Moore) acreditará na nobreza de suas intenções.

"Liam empresta humanidade e integridade profundas a esses heróis, o que os torna mais complexos", enaltece a atriz em entrevista à Folha, em Londres, ao comentar a recente tendência de escalação do colega para papéis de "salvador da pátria" de alma torturada e expressão grave. "São tipos simples, desprovidos de poderes especiais ou supercarros, geralmente com histórias de vida complicadas, e que resolvem se colocar em situações de risco em nome de seus princípios."

AURA

O irlandês compra a descrição de Moore, não sem acrescentar uma camada mística. "Todo ator projeta a aura que acumulou ao longo da vida, conscientemente ou não. Não pode mudá-la."

Ao longo de uma adolescência cinéfila, Neeson se fascinou por atores que "pareciam estar interpretando a si próprios". Spencer Tracy (1900-1967), de "O Vento Será Tua Herança", Robert Mitchum (1917-1997), nome-chave do gênero noir, e Gary Cooper (1901-1961), de "Sargento York", figuravam entre os preferidos. "Quando ia ver os filmes de Tracy, não estava atrás de um 'Spencer Tracy como...'. Queria a segurança da familiaridade com uma persona artística que eu já conhecesse", diz.

Para quem, como ele, preza essa familiaridade com arquétipos, o noticiário hollywoodiano reserva uma boa notícia: Neeson voltará aos personagens estoicos inspirados em figuras reais. Ele está em "Silence", adaptação de Martin Scorsese para o romance de Shusaku Endo sobre a ida de um missionário jesuíta ao Japão, no século 17, a fim de acudir católicos perseguidos pelo governo.

O jornalista LUCAS NEVES viajou a convite da Paris Filmes


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