Folha de S. Paulo


Peter O'Toole foi de galã a um ator genial

Peter O'Toole morreu no sábado, aos 81 anos, em Londres, de causas não divulgadas.

Para muitas gerações, quem morreu realmente foi Lawrence da Arábia, tal a identificação de ator e personagem no filme grandioso produzido em 1962.

Mas há muito mais na carreira dele para garantir seu lugar entre os maiores do cinema. Fez 70 filmes e recebeu oito indicações ao Oscar. Não ganhou em nenhuma delas, sendo contemplado pela Academia em 2003 com um prêmio por sua carreira. Só depois, em 2006, receberia a oitava indicação, por "Vênus".

Nascido em 2 de agosto de 1932, em Connemara, na Irlanda, ou no norte da Inglaterra, segundo fontes distintas, ele ganhou prestígio como ator de três grandes companhias inglesas de teatro nos anos 1950, antes de estrear no cinema em 1959, com "A Espada de um Bravo".

Editoria de Arte/Folhapress

Em seu terceiro filme, foi escolhido pelo diretor David Lean para protagonizar "Lawrence da Arábia". Sua atuação como um controvertido coronel britânico que lutou na frente turca na Primeira Guerra Mundial é antológica, num papel que foi recusado por Marlon Brando.

Alto, loiro e de olhos azuis, O'Toole era a aposta britânica para um grande galã de aventuras nas telas. "Lord Jim", de 1965, indicava este caminho.

Mas alguém tão enraizado no melhor teatro inglês não aceitaria algo tão simples.

O'Toole figurou então como um dos principais nomes entre atores britânicos vindos do teatro que dominaram o cinema na segunda metade dos anos 1960, em filmes densos e ousados.

Sua "turma", na qual muitos se conheciam desde as escolas de dramaturgia, tinha nomes como Albert Finney, Richard Harris, Alan Bates, Michael Caine e, um pouco mais velho, Richard Burton.

O'Toole iniciou então uma sucessão de filmes muito elogiados, como "A Noite dos Generais" (1967), "O Leão no Inverno" (1968), "Adeus Mr. Chips" (1969) e "A Classe Dominante" (1970).
Idolatrado, O'Toole tinha permissão até para alguns deslizes na carreira, como na adaptação do musical "O Homem de la Mancha", em que atua e canta como Dom Quixote ao lado da Dulcinea interpretada por Sophia Loren.

Os dois não cantam absolutamente nada, mas ela está tão linda e ele tão carismático que o sucesso do filme em 1972 foi estrondoso.

ÁLCOOL E FARRAS

Depois dos 40 anos, O'Toole perdeu o vigor para personagens heroicos. Uma característica dessa aclamada geração britânica de atores era o excesso de álcool e farras.

Ele desistiu de alguns papéis por problemas de relacionamento com produtores e diretores, mas sempre retornava em personagens que não dessem muito trabalho.

Foi assim no drama psicológico "O Substituto" (1980) e na comédia "Um Cara Muito Baratinado" (1982), na qual interpreta um ator inglês problemático e alcoólatra. Por eles, recebeu duas de suas indicações ao Oscar.

Trabalhando cada vez menos, passou a emprestar sua voz a animações ("O trabalho mais fácil do mundo", segundo ele) e a fazer pontas em filmes caros que usavam seu nome como chamariz de credibilidade. Casos de "Troia" (2004) e "Stardust: O Mistério da Estrela" (2007).

Ele anunciou sua aposentadoria no ano passado e ainda resta um filme inédito no qual trabalhou, a produção épica britânica "Katherine of Alexandria" (Catarina de Alexandria). Ele interpretou o personagem Gallus.

O'Toole também avisou que iria se dedicar ao terceiro volume de suas memórias. Os dois primeiros foram sucesso na Inglaterra.

O ator deixa duas filhas, Pat e Kate, de seu casamento com a atriz Siân Phillips, e um filho, Lorcan, da relação com Karen Brown.


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