Existe um certo exagero quando se batiza um livro de "clássico". Nem todos os "clássicos" merecem ser assim chamados. Mas "O Grande Circo", do aviador nascido em Curitiba e filho de franceses Pierre Clostermann (1921-2006), é um desses. Um clássico livro de memórias tanto da aviação como da Segunda Guerra Mundial.
Clostermann foi um dos mais importantes pilotos de caça franceses.
Escrito logo após a guerra, foi editado no Brasil anos depois em uma versão truncada. Como era comum na época, alguns capítulos não eram traduzidos. Aconteceu a mesma coisa com outro livro que pode ser considerado também um clássico, e que trata do mesmo tema, visto pelo outro lado, "O Primeiro e o Último", do piloto de caça alemão Adolf Galland.
Divulgação | ||
O aviador Pierre Clostermann em imagem do livro 'O Grande Circo' |
E a mesma editora, a C&R Editorial, decidiu lançar os dois livros em versão integral, definitiva. Ou quase.
É difícil dizer qual versão dos livros é a última e melhor, pois ao longo dos anos os autores fizeram modificações no texto, especialmente Clostermann. A editora brasileira caprichou ao elucidar detalhes técnicos em muitas notas.
Por exemplo, ele decidiu incluir um polêmico prefácio na edição de 2000 em que criticava um ícone francês, o também piloto e escritor Antoine de Saint-Exupéry, autor do também clássico "O Pequeno Príncipe".
De acordo com ele, Saint-Exupéry intrigava contra o general Charles de Gaulle, líder da França Livre na guerra,
Mas isso não importa muito. O livro é um prazer de se ler pelo que conta da vida de um jovem aviador --que começou a voar no Brasil, depois nos EUA-- que resolveu lutar pela sua pátria invadida pelo inimigo. Foi parar na Real Força Aérea (RAF) britânica e se tornou um ás.
Clostermann alegou ter abatido 33 aviões alemães; a RAF só confirmou oficialmente 19. Estimar as perdas em combates aéreos nunca foi ciência exata. Tanto faz. Foi um grande piloto.
O músico João Barone, dos Paralamas do Sucesso, é um entusiasta do estudo da Segunda Guerra (seu pai foi da Força Expedicionária Brasileira). Entrevistou Clostermann e fez um documentário sobre sua participação no Dia D, a invasão aliada da França em 1944. "Um Brasileiro no Dia D" é o complemento ideal para este livro.
Para quem leu "O Grande Circo" quando era adolescente, será certamente um prazer reler esse clássico.
O GRANDE CIRCO
AUTOR Pierre Clostermann
TRADUÇÃO Mario Miguel Fernadez Escaleira
EDITORA C & R Editorial
QUANTO R$ 78 (408 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo