Folha de S. Paulo


Tribunal russo declara bailarino culpado de ataque com ácido contra diretor do Bolshoi

Um tribunal russo declarou culpados nesta terça-feira o bailarino Pavel Dimitrichenko e mais dois acusados --Yuri Zarutski e Andrei Lipatov-- de jogar ácido no diretor artístico do grande teatro russo Bolshoi, Serguei Filin, em janeiro deste ano.

Os três são julgados desde outubro em um tribunal de Moscou pelo ataque cometido diante da casa do diretor artístico do prestigioso teatro.

Dimitrichenko, condenado como autor intelectual do ataque, foi condenado a seis anos de prisão. Yuri Zarutski, o executor, foi condenado a 10 e o terceiro acusado, o motorista Andrei Lipatov, foi condenado a quatro anos.

Na semana passada, a promotoria havia pedido nove anos de prisão para Dimitrichenko, dez para Zarutski e seis para o motorista Lipatov.

Alexander Nemenov/AFP
Pavel Dmitrichenko, bailarino do Bolshoi, sorri da cela em que acompanha seu julgamento; ele foi considerado culpado pelo ataque com ácido contra o diretor do teatro russo
Pavel Dmitrichenko, bailarino do Bolshoi, sorri da cela em que acompanha seu julgamento; ele foi considerado culpado pelo ataque

O ataque provocou ferimentos graves no rosto e nos olhos de Serguei Filin, 43. O diretor passou por várias cirurgias na Alemanha.

Segundo a acusação, o ataque foi organizado com antecedência e todos as pessoas interrogadas durante o processo demonstraram que Dimitrichenko, em conflito com Filin, tinha motivos para cometer a agressão.

Durante as audiências, Dimitrichenko, bailarino solista e militante sindical no Bolshoi, assegurou não ter pedido a seus supostos cúmplices que causassem "um dano grave" a Filin e que o executante, Yuri Zarutski, agiu por conta própria.

Zarutski, por sua vez, reconheceu ter atacado o diretor artístico, mas disse que não conspirou com Dimitrichenko.

Filin praticamente perdeu a visão desde que foi atingido com ácido no rosto. Depois de submeter-se a um transplante de pele e várias operações nos olhos, retomou em setembro seu trabalho no teatro, acompanhado por um segurança.

REDE DE INTRIGAS

Este caso revelou as fortes rivalidades e conflitos internos dentro do prestigioso teatro russo.

O diretor do Bolshoi, Anatoly Iksanov, revelou à imprensa recentemente que Filin havia recebido ameaças antes do ataque.

Bailarinos do Bolshoi reagiram com choque à notícia. "O que aconteceu com Sergei Filin não é uma coincidência", escreveu Alexey Ratmansky, seu antecessor na direção artística do grupo, em seu perfil no Facebook. "Somos rodeados por um conjunto repugnante de bajuladores e fãs lunáticos preparados para cortar a garganta dos rivais dos seus ídolos, mentiras na imprensa e entrevistas escandalosas de funcionários."

Anastasia Volochkova, ex-bailarina do Bolshoi, disse ao "New York Times" que crimes desse tipo tornaram-se parte da história da companhia de dança. "Que os conflitos sejam decididos dessa forma no Bolshoi --toda essa ilegalidade, corrupção e ausência de humanidade-- é o sinal do fim."

Fillin foi nomeado diretor-geral do Bolshoi em 2011, e a sua gestão não teve episódios controversos. A intriga e as disputas de poder, contudo, são parte dos 234 anos de história da instituição.

O "New York Times" destacou histórias de bailarinos que colocavam pedaços de vidro partido na ponta de sapatilhas, para atrapalhar os rivais.

Mais recentemente, pouco antes da nomeação de Filin, Gennady Yanin foi obrigado a abandonar o cargo depois de fotos íntimas do ex-diretor terem sido divulgadas anonimamente.


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