Os herdeiros de uma família judaica saqueada pelos nazistas na Áustria reivindicam ao Ministério de Cultura a restituição do famoso "Friso de Beethoven", de Gustav Klimt, ao considerar que, após sua devolução em 1973, o Estado adquiriu a obra por um preço abaixo do marcado e sob fortes pressões.
A solicitação da restituição foi entregue ontem ao Ministério de Cultura da Áustria, informou nesta quarta-feira Marc Weber, o advogado suíço que representa uma parte dos herdeiros da família Lederer.
O "Friso de Beethoven", exposto na Secession de Viena, foi desapropriado da família judaica em 1938, após a anexação da Áustria pela Alemanha nazista.
Após a Segunda Guerra Mundial, o Estado austríaco devolveu a obra a Erich Lederer, o herdeiro da família, mas proibiu o mesmo de tirá-la do país, assim como o restante das obras da coleção, amparando-se na legislação da época.
Roland Schlager/Efe | ||
A obra 'Friso de Beethoven', de Gustav Klimt, no museu Secession, em Viena (Áustria) |
No entanto, o governo austríaco permitiu a saída das obras, mas somente se Lederer vendesse o "Friso" a um preço de US$ 750 mil, um valor muito abaixo do mercado.
"O Estado lhe obrigou a vender a obra por um preço muito baixo. Na ocasião, ele não tinha outra possibilidade", argumentou Weber, quem indicou que manobra do governo austríaco foi como uma espécie de extorsão.
O proprietário, que passava por sérios problemas financeiros, concordou com a venda, e o "Friso" acabou ficando na Áustria, onde foi restaurado posteriormente.
Apesar de antiga, a disputa em questão veio à tona ainda em 2009, quando uma reforma legal abriu espaço para restituição de obras cuja aquisição pelo Estado esteve relacionada com a lei de veto à exportação.
"Antes não teria sido possível solicitar a devolução porque a lei foi modificada em 2009. Averiguamos durante anos essa questão, assim como a história da família. No final, concluímos que, com a nova legislação, a restituição do 'Friso de Beethoven' era viável", indicou o advogado.
Agora, uma comissão encarregada de analisar as solicitações de restituições das obras de arte terá que examinar o caso e formular uma recomendação ao Ministério de Cultura.
Segundo Weber, a família ainda não decidiu se, em caso de devolução, o "Friso" será novamente vendido à Áustria sob novas condições ou se será retirado do país.
Por sua parte, o Ministério de Cultura da Áustria indicou que ainda não recebeu nenhuma solicitação de restauração de maneira oficial e que só conhece o assunto pela imprensa local.
"Normalmente, os solicitantes [a família] têm que argumentar a solicitação", explicou Raimund Lang, porta-voz do Ministério.
Lang assegurou não poder facilitar mais informações por não conhecer os fundamentos da demanda reivindicação e explicou que o caso será estudado com normalidade pelo conselho responsável destes casos em sua próxima reunião.
Nesse sentido, o porta-voz negou que se trate de um caso especial, pelo fato da obra ser tão conhecida, e assegurou que todos os pedidos são tratados com o mesmo profissionalismo.