Folha de S. Paulo


Paulo Coelho diz que avisou MinC sobre desistência da Feira de Frankfurt em março

Em bate-papo com o portal "Jovem Nerd" nesta quarta-feira (9), o escritor Paulo Coelho falou sobre sua decisão de não participar da Feira do Livro de Frankfurt, que, segundo ele, estava tomada desde março, quando a lista de escritores que representariam o Brasil no evento foi divulgada.

"Em fevereiro, começou a se discutir a lista de convidados da feira. Me questionaram [o portal 'Jovem Nerd'] se eu ia e eu avisei que só iria se fossem também os autores jovens", disse Coelho.

A desistência de Paulo Coelho, que estava na lista de convidados para a Feira de Frankfurt, só veio à tona no final da semana passada, quando o escritor deu entrevista ao jornal alemão "Die Welt". Nela, reclamou que autores jovens como Eduardo Spohr, Carolina Munhoz, Thalita Rebouças, André Vianco, Felipe Neto e Raphael Draccon não estavam na lista, que só conhecia 20 dos 70 escritores selecionados pelo Ministério da Cultura (MinC) para representar o Brasil e que isso parecia "nepotismo".

"Eles [os autores jovens] estão fazendo uma literatura que aparece, que está sendo vista. Eu pedi ao Galeno Amorim [ex-presidente da Fundação Biblioteca Nacional] para levá-los. Só que ele foi substituído de lá para cá. Mas eu avisei nossos amigos do Ministério da Cultura que eu não ia participar. Tanto não ia que não estou na programação oficial nem tive hotel marcado", disse Coelho ao "Jovem Nerd" nesta quarta.

"Achei que todos no Brasil soubessem que eu não ia."

Na Alemanha, a ministra Marta Suplicy afirmou hoje que tentou entrar em contato com Paulo Coelho para convencê-lo a ir e que até reservou um auditório para que ele fizesse uma noite de autógrafos, sem sucesso.

O escritor pediu desculpas à ministra por não ter retornado as tentativas de contato dela e negou que tivesse desistido de participar de Frankfurt por ter pedidos negados pelo MinC, como um auditório de mil lugares e a oportunidade de fazer o discurso de abertura

"Eu fiquei furioso por terem dito que não fui porque não me arranjaram auditório", afirmou. "Eu não estou indo porque só conheço 20 dos autores escolhidos. Os outros 50 são o 'trem da alegria.'"

Segundo Coelho, pessoas que têm relevância no cenário literário nacional foram "ignoradas". "Eu já fui ignorado, eu senti na pele isso. Em 1994 o 'trem da alegria' era outro e eu não fui convidado", disse, em referência à última Feira de Frankfurt na qual o Brasil foi homenageado.

Na época, ele foi extraoficialmente e virou a maior atração do país no evento.

"Justificam dizendo que os autores [selecionados] são premiados. Ora, autor premiado é autor que tem público. Seria um prestígio para eles [escritores jovens], mas não, vai lá mostrar a literatura do Zezinho que escreve para cinco amigos. Essa discriminação é uma babaquice."

LITERATURA FANTÁSTICA

Participaram da conversa também dois escritores citados por Paulo Coelho na entrevista ao "Die Welt", Raphael Draccon e André Vianco.

Coelho negou que houvesse uma "panelinha" dos escritores de literatura fantástica e, em tom de brincadeira, disse que eles podem ir a Frankfurt no ano que vem.

"Aí vai ser a minha lista (risos). Vamos botar uma cota: não vendeu X livros, não vai", disse o escritor de "O Alquimista".

Draccon e Vianco, por sua vez, agradeceram a lembrança do escritor e se disseram "honrados" pela citação.


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