Folha de S. Paulo


Crítica: Álbum de Ná Ozzetti tem méritos, mas seu tom cerebral emociona pouco

Em discografia de dez títulos, Ná Ozzetti praticamente alterna projetos assentados em canções consagradas com os de composições autorais e de artistas próximos, como Dante Ozzetti e Luiz Tatit.

São de alta qualidade e comoventes os primeiros, como "Show" (2001), "Balangandãs" (2009) e, sobretudo, "Piano e Voz" (2005), CD realizado com André Mehmari. São irregulares os segundos, o resultado variando de acordo com os conceitos propostos e com a qualidade do repertório do pequeno grupo de autores que costuma gravar.

Ná Ozzetti quer colocar público para dançar

"Embalar", está no segundo time. Melodias acidentadas e letras engenhosas têm momentos interessantes, mas predomina, embora a dicotomia possa soar simplória, um tom mais cerebral do que emocional, ficando a saudade da intérprete que, em outros trabalhos, conciliou voz límpida e coração rasgado.

Divulgação
A cantora paulistana Ná Ozzetti, que lança álbum no Sesc Vila Mariana
A cantora paulistana Ná Ozzetti, que lança álbum no Sesc Vila Mariana

Voz, canto, música, melodia são palavras e temas que dominam as quatro primeiras faixas. A faixa-título (Dante Ozzetti/Luiz Tatit) professa um é-recebendo-que-se-dá: segundo a letra, diversos elementos podem integrar uma composição, que depois é oferecida para o público.

Outras duas deixam claras nos títulos suas ideias-chave: "Musa da música" (Dante Ozzetti/Luiz Tatit) é um libelo em versos curtos contra a hipótese do "fim da canção"; "Minha voz" (Déa Trancoso) é mais uma exaltação do ato de cantar, encorpada pela participação de Mônica Salmaso.

Mais leve, porém longe de ser superficial, é "Lizete", com canja de um dos compositores, o ótimo Kiko Dinucci. O humor da história de amores entre mulheres, que lembra Itamar Assumpção, injeta frescor no meio do disco.

"Nem Oi" preserva a graça na letra e também na música, espécie de maxixe com revestimento de século 21. "Olhos de Camões" tem clima sonoro e palavras de século 16, mas a beleza dos versos escolhidos por Alice Ruiz na obra do poeta português torna a experiência atemporal.

Depois do passeio descontraído pelas estações do ano a reboque de uma mulata ("As Estações", de Dante Ozzetti/Luiz Tatit), o CD termina com duas canções menos interessantes da própria Ná: a amazônica "Os enfeites de Cunhã" (com letra de Joãozinho Gomes) e a pop "Pra Começo de Conversa" (parceria com Tulipa Ruiz), que fala muito e não diz tanto.

Ná, com frequência, diz mais quando apenas canta, o que não apaga os méritos de "Embalar", ainda que ele emocione pouco.

LUIZ FERNANDO VIANNA é coordenador de internet do Instituto Moreira Salles.

EMBALAR
ARTISTA Ná Ozzetti
GRAVADORA Circus
QUANTO R$ 25 (em média)
AVALIAÇÃO bom


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