Folha de S. Paulo


Rodrigo Amarante homenageia Caetano em estreia de turnê em SP

Na estreia da turnê de "Cavalo", seu primeiro disco solo, Rodrigo Amarante escolheu "Irene", sua competente homenagem a Caetano Veloso, para começar o show na choperia do Sesc Pompeia, em São Paulo.

"Saudade, eu te matei de fome", começa a letra que se encerra com citação "Irene ri", da Irene de Caetano.

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A escolha reforça outros elementos do disco. Amarante disse ao "Globo" que o cantor baiano está no imaginário de seu disco. Disse ainda que a quase enrolada carta que escreveu como "apresentação" de "Cavalo" --onde reivindica uma identidade migrante, fala sobre desterro, sobre saudade e sobre criação-- começou como uma carta a Caetano.

O exílio (diga-se, o mais cool dos exílios, voluntário e ao lado do mainstream do Strokes ou do hipsterismo de Devendra Banhart, seus parceiros nos EUA, onde foi morar), a abertura ao estrangeiro como cultura e como linguagem, a aposta de risco na mudança e no crash de estilos no show, a verborragia pronunciada, o egocentrismo às claras. Tudo mostra tributo a Caetano.

Somos remetidos a uma crítica de Pedro Alexandre Sanches, uma década atrás, na Folha. No lançamento de "Ventura", o disco de 2003 dos "Los Hermanos", Sanches afirmara que, guardadas todas e devidas proporções, tínhamos Caetano (Amarante) e Chico Buarque (Marcelo Camelo) na mesma banda. Em caminhos separados, a comparação segue valendo.

Marcelo Justo/Folhapress
Rodrigo Amarante, ex-Los Hermanos, estreia turnê do álbum
Rodrigo Amarante, ex-Los Hermanos, estreia turnê do álbum "Cavalo" na choperia do Sesc Pompeia, em São Paulo

No show, pode-se apostar um dos porquês do exílio autoinfligido ou o porquê do disco inteiro ter sido disponibilizado para compra ou escuta streaming apenas uma semana antes da estreia da turnê. Amarante parece querer se por à prova, ver se ainda é capaz de conquistar uma plateia a quente, com músicas lentas, de pesado violão, solos de piano, e não a alegria fácil de seus trabalhos na "Orquestra Imperial" e "Little Joy" ou a histeria quase religiosa dos seguidores dos "Los Hermanos".

Na apresentação de pouco mais de uma hora, Amarante atravessa a primeira metade quase tímido, "bobo", ele disse. Ouvimos "Irene", "Nada em Vão", "Cometa","Mom Non", "I´m Ready", uma composição nova e "Hourglass", a mais roqueira do disco.

Após a sessão com as canções mais soturnas e ao piano (que ele tocou), chega a fase animada, que começa com "Augusta", de Tom Zé ( o único cover do show), e o balanço de "Maná", caribenha, ponto de macumba e filha de Jorge Ben Jor, lançada como espécie de single no semestre passado.

Em "Maná" volta o tema da sorte e os caminhos do amor, que vem de antes. "É que sorte é preciso tirar para ter", de "Primeiro Andar", do "4" dos Los Hermanos, vamos para "Que o erro é onde a sorte está", de "I´m ready" até "O amor é coragem/ é feitiço da sorte/ Mas o ponto mais forte/ é saber se amar" de "Maná". Chegamos em "Tardei".

O show, no qual foi acompanhado por Rodrigo Barba (bateria, ex-Los Hermanos), Gabriel Bubu (baixo, "Do Amor"), Gabriel Benjão (guitarra, "Do Amor") e Lucas Vasconcelos (teclado), termina, no bis, com "Evaporar", que não está no disco, mas ele já havia gravado com o 'Little Joy". É conhecida, a plateia canta junto como nos velhos tempos, só que não.

RODRIGO AMARANTE
QUANDO quinta, sexta e sábado (26, 27 e 28), às 21h30
ONDE Sesc Pompeia (r. Clélia, 93; tel. 0/xx/11/3871-7700)
QUANTO R$ 30 (ingressos esgotados)
CLASSIFICAÇÃO 18 anos


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