Folha de S. Paulo


Crítica: Desconstruindo músicas, Brad Mehldau faz um grande show na terceira noite do BMW Jazz Festival

Na terceira e última noite do BMW Jazz Festival em São Paulo, a apresentação mais interessante veio logo na abertura, com o pianista Brad Mehldau. Na verdade, uma primorosa performance no palco do HSBC Brasil.

Acompanhado do baixista Larry Grenadier e do baterista Jeff Ballard, seus parceiros há mais de dez anos, ele explora ao extremo o formato do trio clássico de jazz.

Como outros grandes, Mehldau é generoso com seus companheiros, dando espaço para que cada um mostre um pouco de técnica apuradíssima. Grenadier toca suave e preciso, arrancando aplausos, mas é Ballard que hipnotiza a plateia.

Claro que solos de bateria sempre empolgam, pois trata-se de um instrumento no qual muitas pessoas acreditam discernir o que é "fácil" e o que é "difícil", mesmo que a pessoa tenha como "base técnica" o batuque em um Tupperware.

Mas Ballard é realmente um virtuose e é de sua evidente química com Mehldau que surge a força do trio, porque Grenadier é mais delirante e isolado no palco.

A estrela, no entanto, é o simpático e tranquilo Mehldau. Toca uma barbaridade e, ao vivo, tem uma fórmula infalível de conquistar a plateia. Ele pega canções conhecidas e, em cada performance, executa por breves momentos a melodia original, para fazer a conexão com o público. Aí ele começa a desconstruir a música e parte para improvisos envolventes, de raras beleza e criatividade.

Ele apresentou seis músicas, apenas uma original sua, "Sehnsutch". Abriu com "Great Day", de Paul McCartney, que pareceu não ser tão reconhecida pelos fãs. Mas aí Mehldau atacou de "And I Love Her", dos Beatles, e a empatia foi enorme.

O trio tocou também "Since I Fell for You", de Buddy Johnson (um belo encerramento), e "Dexterity", de Charlie Parker. No entanto, o momento em que o público foi definitivamente conquistado surgiu na incrível recriação de "Trocando em Miúdos", de Chico Buarque e Francis Hime.

Mehldau deixou o palco com o mesmo sorriso sereno que exibiu ao entrar em cena. O público, porém, estava com outro estado de espírito. Totalmente extasiado.

As atrações seguintes não conseguiram segurar o pique. O jovem baterista Johnathan Blake é um baita músico, mas seu quinteto precisar ser menos careta no palco. Sem fugir ao convencional, sobreviveu de raros solos mais agressivos. Uma banda que precisa amadurecer.

Experiência é que não falta para Joe Lovano (sax) e Dave Douglas (trompete), mas seu quinteto, Sound Prints, ficou longe da excelência. Conseguiu às vezes empolgar, mas há momentos em que os dois líderes embolam demais, tornado a performance menos palatável para quem não é tão acostumado ao jazz.

BRAD MEHLDAU TRIO
AVALIAÇÃO ótimo

JOHNATHAN BLAKE
AVALIAÇÃO regular

SOUND PRINTS
AVALIAÇÃO bom


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