Folha de S. Paulo


Steven Soderbergh faz thriller sobre depressão

O último filme para cinema de Steven Soderbergh --cujo "Behind The Candelabra", em competição no Festival de Cannes, foi feito para o canal HBO-- não poderia ter outro tema: depressão.

Em "Terapia de Risco", que estreia hoje no Brasil, o cineasta de "Sexo, Mentiras e Videotape" (1989) e "Onze Homens e Um Segredo" (2001) trabalha em cima do roteiro do parceiro produtor Scott Rudin para construir um thriller hitchcockiano sobre drogas legais, indústria farmacêutica e psicose.

Crítica: Longa de Soderbergh vai de discussão sobre remédios a drama individual

"Apesar do tema, o último dia de filmagem foi bem normal, sem nenhuma comoção", conta à Folha o ator Jude Law, dono do papel do psiquiatra responsável pelo tratamento de uma mulher (Rooney Mara) que alega ter matado o marido (Channing Tatum) durante um ataque de sonambulismo gerado por pílulas antidepressivas.

Divulgação
Rooney Mara e Channing Tatum em cena do filme
Rooney Mara e Channing Tatum em cena do filme "Terapia de Risco", de Steven Soderbergh

Soderbergh anunciou sua "aposentadoria" algumas vezes, mas após o telefilme da HBO não há nada no horizonte cinematográfico do diretor --apenas suas pinturas.

"Não acredito que Steven esteja brincando em relação ao assunto", afirma Rooney Mara, em seu primeiro papel desde a indicação ao Oscar por "Os Homens que Não Amavam as Mulheres", no ano passado.

Rooney conta que ficou atraída para o longa porque seria a última oportunidade de trabalhar com o cineasta. "Recebi a oferta no dia da indicação ao Oscar e precisei responder em menos de 12 horas, porque Steven é rápido e tem tudo organizado no seu cérebro para começar a filmar", diz.

Soderbergh também é conhecido por tirar o máximo de seus atores, gerando material de pesquisa e detalhes sobre os personagens que vão além do roteiro.

"Ele me enviou links para vídeos sobre estudos relativos a remédios contra a depressão, livros com anotações e panfletos de reuniões de ex-viciados em drogas legais. Eu me senti na faculdade novamente", recorda-se Rooney, que se formou na Universidade de Nova York exatamente em psicologia.

Jude Law, mais experiente, preferiu "beber diretamente do roteiro". "Meu respeito pelos psiquiatras aumentou muito depois deste trabalho. Um dos consultores do filme conseguia avaliar qualquer pessoa nas filmagens sem ao menos conversar com ela. Era impressionante", diz o ator.

"Terapia de Risco" tem o trunfo de usar a depressão e os tratamentos "milagrosos", vendidos até pela TV nos Estados Unidos, para elaborar um suspense à moda antiga.

Não alcança a complexidade de "Traffic" (2000), mas joga no ventilador uma doença pouco abordada no cinema de gênero. "Depressão clínica é algo sério, mas fizemos o filme como entretenimento. Não poderia fazer um atestado ou análise de algo assim em duas horas. Nem sei se já tive depressão", diz Law.


Endereço da página:

Links no texto: