Folha de S. Paulo


CRIÍTICA

Filmes nacionais se prendem a 'questões sociais' limitadas

O forte impacto estético —e também sociológico— trazido nos últimos anos pelo cinema pernambucano (especialmente o já "clássico" "O Som ao Redor", de 2013) não encontra paralelo nestes "dramas sociais" do eixo Rio-São Paulo, que alcançaram repercussão em 2015. São bons filmes, mas parecem presos a esquemas narrativos e de representação dos processos sociais bem mais convencionais e limitados quanto à percepção e consciência crítica que poderiam ensejar.

Assim, se no filme de Kleber Mendonça Filho os conflitos sociais encontram a perturbadora forma de "algo estranho que está no ar", "Casa Grande" e "Que Horas Ela Volta?" recorrem, às vezes, às tematizações já excessivamente pautadas das "questões sociais". Neste caso, as relações entre patrões e empregados, marcadas por interditos e preconceitos mal ocultos.

Reprodução

Primeiro longa ficcional do carioca Fellipe Barbosa, "Casa Grande" vai mais fundo que o filme da paulista Anna Muylaert ao observar, com a necessária distensão dos tempos fílmicos e roteiro atento à riqueza de detalhes, o cotidiano de Jean, adolescente de classe média alta que tenta entender e posicionar seu lugar no mundo em meio à derrocada financeira da família. Thales Cavalcanti revela-se ótima escolha para o papel, em sua pouco estereotipada caracterização e "neutralidade" dramática. É a deliciosamente ambígua relação de Jean com a empregada Rita (inteligente composição de Clarissa Pinheiro) que articula os melhores momentos do filme, especialmente o aberto e sutilíssimo final (que Muylaert tachou, absurdamente, em entrevista, de "machista").

"Que Horas Ela Volta?", ainda que acerte no discreto tom analítico com que foca as relações contraditórias entre a família rica retratada e a carismática empregada vivida por Regina Casé, às voltas com sua filha (Camila Márdila) pouco afeita aos "lugares" sociais predeterminados, traz roteiro "azeitado" e teleológico em demasia, no qual tudo concorre para a previsível explicitação das tensões e possibilidades de superação implicadas.

Casa Grande
QUANTO: R$ 39,90
EDITORA: IMOVISION
DIREÇÃO: FELLIPE BARBOSA

Que horas ela volta?
QUANTO: R$ 39,90
EDITORA: PARIS FILMES
DIREÇÃO: ANNA MUYLAERT


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