Folha de S. Paulo


Maior parte dos últimos artilheiros da Copa SP não vingaram no futebol

Ser artilheiro da Copa São Paulo de juniores, apontada como uma das principais competições de base do país, não credencia o goleador a ganhar uma chance na equipe principal, nem a garantia de uma carreira de sucesso e muito menos uma transferência internacional para um clube considerado ao menos médio do futebol mundial.

Pelo menos é o que mostra o levantamento feito pela Folha. Desde 2010, a competição teve 13 artilheiros, mas apenas Valdivia, hoje no Internacional, Erik, que trocou o Goiás pelo Palmeiras no final de 2015, e Gustavo, contratado pelo Corinthians em agosto, conseguiram jogar a Série A do Brasileiro no último ano. O primeiro foi o goleador da edição de 2012, enquanto o segundo foi um dos três que mais marcaram no ano seguinte. Já o corintiano foi o goleador de 2014.

Os outros 10 atletas que foram artilheiros do torneio, porém, ficaram bem longe da elite brasileira.

Goleador e campeão pelo São Paulo em 2010, Lucas Gaúcho, 25, teve poucas oportunidades no clube. Depois de marcar dois gols de letra em jogos consecutivos pelo Brasileiro daquele ano, o atacante foi emprestado para São Bernardo e Portuguesa.

Ele ainda foi contratado pelo Espanyol B e emprestado ao São José-RS. O jogador rodou também pela Tailândia (Tero Sasana), Vietnã (Hai Phong), Omã (Al-Shabab), Lituânia (Zalgiris) e estava no Japão, onde jogou pelo Thespa Kusatsu.

Vinicius Costa/Futura Press/Folhapress
O jogador Valdivia do Internacional comemora gol durante partida entre Internacional RS e Cruzeiro MG, válida pelo Campeonato Brasileiro 2016, no Estádio Beira Rio, em Porto Alegre (RS), neste domingo (27).
Valdivia comemora gol pelo Internacional

Em 2011 o artilheiro foi Dellatorre, que marcou sete gols com a camisa do Desportivo Brasil –semifinalista da competição–, equipe de Porto Feliz, cidade a 118 quilômetros de São Paulo. Com o desempenho, foi emprestado ao Internacional e chegou ao Porto B, mas não se firmou.

Retornou ao futebol brasileiro para defender o Atlético-PR, onde ficou por duas temporadas antes de ser emprestado ao Suphanburi,da Tailândia. Aos 24 anos, deve voltar ao clube paranaense com quem tem contrato até o final de 2017.

Os goleadores de 2013, além de Erik, foram Caio Dantas e Diego Alves Vieira. Eles não deixaram o país, mas também não conseguiram emplacar em grandes times. Autor de oito gols pelo Mogi Mirim, que caiu nas oitavas, Diego jogou polo Votuporanguense, Icasa, Confiança e agora está no Juazeirense.

Já Dantas, 23, se destacou no Audax, que chegou às quartas de final, e foi negociado com o América-MG logo após o torneio. Sem sucesso, passou por Red Bull, Água Santa e está no Uberlândia.

"A artilheria em parte ajudou minha projeção. Cheguei ao América-MG, mas joguei apenas três vezes como titular. Faltou uma sequência de jogos para me firmar. Espero mostrar meu futebol agora e conseguir progredir na carreira", disse ele, que atuará pelo time do Triângulo Mineiro pelo segundo ano.

Artilheiros da Copinha

Em 2014, o campeonato também terminou com três artilheiros. Diego Cardoso e Stéfano Yuri, ambos do campeão Santos, e Gustavo Henrique, que defendeu o Taboão da Serra, eliminado nas quartas de final, finalizaram a competição com nove gols.

Diego Cardoso e Stéfano Yuri chegaram a jogar profissionalmente pelo time da Vila Belmiro no mesmo ano. O primeiro anotou dois gols no Paulista e no Brasileiro, enquanto o segundo fez dois no Estadual, sendo um decisivo que colocou o clube na final.

Desde então, os dois não tiveram mais oportunidades. Diego passou por Bragantino e Vila Nova-GO e agora está na equipe B do Santos. Stéfano atuou pelo Náutico e passou pelo Botafogo-SP, onde não jogou em virtude de uma contusão muscular.

"Tive uma sequência boa na equipe principal, mas com a saída Oswaldo [de Oliveira] perdi um pouco de espaço com a chegada do novo técnico [Enderson Moreira] e não fui mais aproveitado. No último ano, o que me atrapalhou foram as lesões", disse Stéfano Yuri, 22, que também está na equipe B.

"Quero mostrar meu potencial para o Dorival, que está sempre observando os treinos", acrescentou o jogador.

Isaac Prado, 21, também lamenta a falta de oportunidades para se firmar em um time grande. Autor de oito gols na edição de 2015 com a camisa do Botafogo-SP, vice-campeão da competição, ele foi o artilheiro juntamente com Gabriel Vasconcelos, 20, do Corinthians, e Santiago, do São Caetano.

Isaac disputou o Estadual pela equipe do Interior e foi emprestado para o Bragantino e, posteriormente, ao Corinthians, onde ficou 16 meses. Neste período, sequer entrou em campo.

"A artilharia foi importante porque deu uma alavancada na minha carreira em termos de visibilidade. Infelizmente não tive uma sequência de jogos no Botafogo, nem no Bragantino e nem no Corinthians, onde me lesionei duas vezes", disse o jogador, que desde a artilharia na copinha não marcou gol jogando profissionalmente.

Gabriel Vasconcelos, 20, disputou novamente a Copa São Paulo deste ano pelo Corinthians, quando foi vice-campeão. No profissional, sequer foi aproveitado. Ele ainda esteve emprestado para América-RJ e Joinville, onde teve poucas oportunidades e retornou ao clube paulista.

Já Santiago, que completa 20 anos em fevereiro, foi emprestado para Cruzeiro e Vasco, mas não teve chances.

João Vadevite/Agência Botafogo/Divulgação
Isaac Prado comemora gol pelo Botafogo. João Vadevite/Agência Botafogo/Divulgação. http://botafogosp.com.br/wp-content/uploads/2015/01/IMG_7744-1024x682.jpg
Isaac Prado foi artilheiro em 2015 e desde então não marcou mais gols

FALTA DE SEQUÊNCIA

A falta de sequência, de oportunidades pode soar até como desculpa para muita gente. Para os treinadores que têm experiência em categorias de base, porém, a justificativa dos jovens procede.

"Os jogadores têm que ser promovidos e ganhar uma oportunidade quando estão vivendo um bom momento, quando estão com confiança e moral. Na minha opinião, também falta um pouco de paciência para os clubes", disse Rodrigo Fonseca, que trabalhou com Isaac em 2015.

Campeão com o Santos um ano antes, Pepinho Macia, filho do ex-jogador Pepe, concorda com Fonseca e ainda vê a falta de paciência da torcida e dos treinadores com os jogadores da posição.

"É uma série de fatores [para não vingar]. Normalmente, jogam 10, 15 minutos e não conseguem mostrar nada. A torcida também não tem paciência com atacante, que é sempre cobrado", afirmou ele citando o lateral Zeca, titular do time campeão do torneio e também da equipe principal santista.

Especialista em categorias de base, Osmar Loss, técnico do Corinthians há quase três anos e meio, também vê que a cobrança atrapalha.

"O problema é o processo de transição. Tudo o que é feito na base infelizmente é esquecido quando chega no profissional. Não se pode cobrar o mesmo resultado que um jogador jovem tem na base no profissional. Ele sai de um grupo de atletas onde está acostumado e entra em outro totalmente diferente. Geralmente, o treinador que vai trabalhar com esse garoto não sabe a personalidade dele", afirmou Loss, campeão da Copa São Paulo de 2015.

48ª COPA SÃO PAULO

CALENDÁRIO
A competição começa nesta segunda (2) e termina em 25 de janeiro, data da final no Pacaembu

LOCAIS
Ao todo, 29 cidades-sedes receberão partidas

REGULAMENTO
A competição terá sete fases. Na primeira, classificarão as duas equipes com melhor desempenho em cada grupo. Da segunda em diante, passa a vigorar o sistema mata-mata

INCHAÇO
A edição de 2017 contará com o maior número de clubes em uma edição Serão 120 participantes, divididos em 30 grupos na primeira fase

NOVIDADE
Nesta edição, cada técnico poderá fazer até seis substituições. As alterações deverão ser feitas em até três intervenções

ONDE ASSISTIR
Rede Vida, ESPN Brasil e SporTV transmitirão jogos


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