Folha de S. Paulo


Vestido curto e solto da Nike provoca reclamações de tenistas

Para as tenistas que vestem Nike em Wimbledon, o estilo único não basta.

Em lugar das roupas que tipicamente oferece à maioria das jogadoras pagas para usar seus produtos, a Nike este ano as vestiu em um vestido curto e soltinho.

O vestido é branco, em respeito ao código de uniformes de Wimbledon. Mas não é exatamente ideal para o tênis competitivo, de acordo com diversas jogadoras. Isso resultou em mudanças de guarda-roupa.

"Na hora do saque, o vestido subia, eu o sentia se espalhando por toda parte", disse a sueca Rebecca Peterson. "O vestido é bem simples, em termos gerais, mas voava para todo lado".

Peterson jogou com uma camisa de manga comprida sobre o vestido, para mantê-lo ao menos em parte no lugar.

Katie Boulter improvisou, amarrando uma faixa de cabeça na cintura para servir como cinto, mantendo o vestido mais ou menos no lugar. Lucie Hradecka usou leggings sob o vestido, o que transformou na prática em camisa.

O técnico de Hradecka, Jiri Fencl, disse que ela havia sentido frio, no verão inglês, usando apenas o vestido fino, e expressado preocupação sobre usá-lo de preferência às suas roupas de competição usuais, mais presas ao corpo, especialmente por conta de suas rebatidas com as duas mãos e da posição agachada que ela adota nos jogos de duplas.

"Foi o primeiro vestido que ela experimentou em um treino", disse Fencl.

"Percebeu que ele era muito curto, e que voa, e por isso decidiu experimentar no treino. A saia voa muito, e às vezes você precisa das duas mãos para segurá-la. Acho que todas as tenistas pensam que ele é curto demais. Ela também estava preocupada com as duplas, porque seria preciso segurar a saia ao se levantar da posição baixa".

Não era isso que a Nike tinha em mente. Em release divulgado antes do torneio, a companhia alardeou o vestido: "As atletas da equipe NikeCourt competirão usando o NikeCourt Premier Slam Dress, de peça única, que representa novidade diante da combinação de saia e top usada em Grand Slams anteriores". O release também afirmava que "a despeito da estética tradicional, o vestido apresenta elementos modernos de design, como pregas especiais e uma construção estruturada que, juntos, ajudam a liberar o movimento da atleta".

Mas quando colocado em teste na seletiva da semana passada, o vestido rapidamente se provou problemático. Ele não tem muita forma, e pedaços longos de tecido pendem soltos na frente e atrás. Seu estilo lembra o modelo "babydoll" criado em 1942 pela estilista Sylvia Pedlar, de Nova York, a fim de enfrentar a falta de tecido de que os Estados Unidos sofriam na época da guerra, e é mais comumente associado a lingerie ou a roupas de dormir do que ao desempenho esportivo.

Antes do fim da seletiva, o jornal "Daily Mail" já havia noticiado que a Nike havia enviado às suas atletas uma mensagem classificada como "MUITO importante", solicitando que devolvessem os vestidos para "pequenas alterações em respeito às regras de Wimbledon".

Embora eles não tenham sido encompridados, as fendas laterais dos vestidos foram costuradas por um costureiro da Nike, o que firmou um pouco o tecido leve do vestido, impedindo-o de voar muito durante as jogadas.

A Nike contesta a classificação da mensagem como recall do vestido. "O produto não sofreu recall e frequentamos personalizamos produtos e os alteramos para os atletas durante competições", disse um porta-voz da Nike. "Trabalhamos em estreito contato com nossos atletas para lhes fornecer produtos que os ajudem em seu desempenho e a se sentirem bem em quadra".

O All-England Club, que organiza o torneio, informou que o vestido havia sido aprovado para uso em Wimbledon antes das alterações de último minuto porque havia satisfeito tanto os severos critérios do torneio quanto a uniformes completamente brancos quanto passado por um teste de decência para determinar se era revelador demais.

Além das alterações compulsórias nos vestidos, a Nike também ofereceu a suas atletas a opção de usar saias e tops, o uniforme mais tradicional do tênis feminino.

Diversas delas a aceitaram.

"O vestido era curto demais, em minha opinião, e agora estamos usando uma saia e camisa normais", disse a veterana tenista Roberta Vinci, que disse jamais ter passado por uma mudança de último minuto como essa da parte de seus fornecedores de material esportivo. "Bonito e confortável, e acho que tudo ficará bem para as jogadoras agora".

Daria Kasatkina também optou rapidamente pela mudança.

"Fico feliz por ter essa oportunidade, porque quando você se sente bem em quadra, joga melhor", disse Kasatkina. "Se alguma coisa a incomoda o tempo, não. Testei o vestido nos treinos, e não gostei muito. Estava sempre subindo, e mostrava o estômago e tudo mais. Não era muito agradável".

Sabine Lisicki, finalista em Wimbledon em 2013, também preferiu a saia e top, ecoando que o conforto em quadra era o mais importante.

"Não me sentia confortável mostrando tanto", disse Lisicki, rindo.

Samantha Crawford, que tem 1,88 metro de altura, também mudou, dizendo que há anos não usava vestidos de tênis em quadra porque acha que eles raramente ficam bem em uma jogadora de sua altura.

"Fica bonitinho em muitas das meninas - vi Lauren Davis com ele, e estava realmente bonito", disse Crawford sobre Davis, que tem 1,58 metro de altura. "Mas sou muito alta, e tenho esse problema com todos os vestidos que experimento".

Algumas tenistas elogiaram muito o vestido. Maria Sakkari o usou sem alteração nas suas duas primeiras partidas seletivas, e o usou alterado em duas novas vitórias. Ela disse que era um dos melhores uniformes de tênis que já usou.

"É um vestido muito bonito, e acho que muito feminino", disse Sakkari. "E muito confortável".

Eugenie Bouchard, finalista de Wimbledon em 2014, foi a jogadora usada como modelo para o vestido nos materiais de promoção da Nike. Ela defende o modelo.

"Eu o amo", disse Bouchard à rede de TV TSN. "É bonito e curto, e você pode se movimentar e ter liberdade. Não sei, acho engraçado que as pessoas tenham prestado tanta atenção a ele, mas para mim é bem bonito".

Uma das atletas da Nike que não foram afetadas pelo design do vestido foi Serena Williams, porque a empresa cria uniformes únicos para ela.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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