Folha de S. Paulo


Em Paris, brasileiras do taekwondo relatam medo; torneio é cancelado

Josiane Lima, 27, e Julia Vasconcelos, 23, estavam no metrô de Paris, por volta das 20h (horário local) desta sexta-feira (13), voltando para o hotel, quando os atentados começaram na capital francesa. Sozinhas, após a pesagem oficial do Aberto da França de taekwondo, as duas atletas da seleção brasileira ainda não sabiam dos ataques terroristas.

Chegaram ao quarto que dividem do hotel Kyriad, que fica a cerca de 4 km da casa de espetáculos Bataclan, um dos focos dos atentados que deixaram mais de cem mortos, quando chegou a primeira mensagem, de um amigo brasileiro. "Na hora liguei a TV do quarto e vi as notícias", diz Julia à Folha. Desde então ela não deixou o local.

Josiane saiu para jantar. "Fui a um restaurante e só quando retornei para a Internet vi várias mensagens. Minha mãe ficou muito preocupada porque saí para comer à noite", conta.

Reprodução/Facebook
A brasileira Julia Vasconcelos, do taekwondo
A brasileira Julia Vasconcelos, do taekwondo

"Quando ela estava no restaurante eu mandei mensagem dizendo o que estava acontecendo e que estava preocupada com ela", lembra Julia.

A organização anunciou que o campeonato estava cancelado. O torneio seria realizado neste sábado (14) e domingo (15), com mais de 500 atletas de todo o mundo inscritos. Elas eram as únicas brasileiras no Aberto. Nem mesmo técnicos as acompanham.

"Estou muito perto do local do atentado e passei em frente ao estádio após o ocorrido. Estou um pouco assustada com tudo, mas gostaria de tranquilizar amigos e familiares, dizer que estou bem", escreveu Josiane em sua conta no Facebook na manhã deste sábado.

As duas lutadoras da seleção ainda não sabem quando voltarão ao Brasil. Elas mesmas pagaram para disputar a competição em Paris. Julia calcula que gastou mais de R$ 10 mil. Josiane está há 45 dias na Europa, antes de Paris estava treinando na Sérvia.

Reprodução/Facebook
A brasileira Josiane Lima, do taekwondo
A brasileira Josiane Lima, do taekwondo

Ambas são da categoria até 47 kg e disputam uma vaga nos Jogos Olímpicos do Rio-2016. As seletivas nacionais para definir qual das atletas vai representar o Brasil na Olimpíada acontece no início do ano que vem. Quem ganhar assegura um lugar nos Jogos.

O Aberto de Paris não valia pontos na corrida olímpica. No entanto, seria importante para as atletas competirem contra as melhores do mundo. "Para mim, esse Open era muito importante, porque estou me adaptando na categoria -57kg. É uma categoria nova para mim, onde as europeias dominam. Seria excelente lutar aqui porque poderia ver meu rendimento perante as europeias", explica Julia, que perdeu peso para tentar vaga na Rio-2016 na categoria que hoje é liderada por Josiane.

Enquanto não sabem quando vão deixar Paris, elas se preparam ao menos para o almoço deste sábado. "Não sabemos o que fazer exatamente", diz Josiane. Os parisienses, os franceses e, quiçá, o restante do mundo, também não.


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