Folha de S. Paulo


Jogadores 'somem' e preocupam embaixada brasileira na Ucrânia

É basicamente por causa do futebol que existem brasileiros na Ucrânia.

Cerca de 40 foram inscritos no atual campeonato nacional. Só um dos 16 clubes não contratou nenhum jogador do Brasil. Na Espanha, por exemplo, são menos de 25.

"Devemos ter uns cem aqui, contando segunda e terceira divisões", estimou o embaixador brasileiro na Ucrânia, Antônio Fernando Cruz de Mello. "Além deles, só três ou quatro executivos em empresas multinacionais e uns dois pastores evangélicos".

As constantes viagens dos atletas vêm atormentando o monitoramento realizado por ele.

"Muitos não têm tido mais contato com a gente, não têm nos procurado mais. Muitos desses jogadores se mandaram para o Brasil e não comunicaram a embaixada, o que é um erro, pois precisamos ter informações deles. Pedimos, mas eles não fizeram isso", lamentou Mello.

Ele acrescentou que a embaixada não foi contactada pelos dois brasileiros de times da península da Crimeia, que está sendo praticamente anexada pela Rússia e é o maior foco de perigo da crise local atualmente.

O meia-atacante Farley Rosa, 20, ex-Cruzeiro, faz sua primeira temporada no Sevastopol, da cidade homônima que abriga a estratégica base militar russa. O zagueiro Célio Santos, 26, ex-Ponte Preta, defende o Tavriya desde 2012.

A província autônoma, que teve sua independência aprovada por seu parlamento nesta semana, realizará neste domingo uma consulta à sua população –de maioria étnica russa– sobre uma anexação à potência vizinha.

Após parada de inverno que dura de dezembro a março, está marcado para este sábado o recomeço do Campeonato Ucraniano, adiado em duas semanas por causa dos confrontos que causaram mais de 80 mortes.

O Tavriya, que levou seu elenco para a Turquia, alegou falta de segurança para jogar na sua cidade, Simferopol, e a liga inverteu o mando de campo ao agendar a partida contra o Dínamo para a capital Kiev, onde as duas equipes já se enfrentaram no primeiro turno.

O duelo está sob risco de não acontecer.

"O Tavriya não sabe se vai jogar. Cada um diz uma coisa: que eles não aceitam jogar fora de casa, que preferem adiar a partida, que estão há cinco meses sem salário, que na Crimeia não querem mais seus times jogando na Ucrânia...", relatou o lateral direito Danilo Silva, 27, do Dínamo.

Célio Santos havia resistido em retornar ao seu time. "Ele estava machucado e tinha que voltar em fevereiro, mas, com aquele problema lá, acabou não voltando. Não consegui mais localizá-lo no Brasil", alegou seu agente, Elijá Telles.

Farley está sozinho na Crimeia. "O clube proibiu que ele dê declarações. Ele conta que a situação está relativamente tranquila, apesar da presença militar, que a população local aceita. Não houve quebra-quebra", disse seu assessor de imprensa, Rafael Alvarez. "Ele falou que não se arrependeu de ir para lá".

"Estão praticamente descartados os jogos na Crimeia", avaliou o ex-zagueiro Antônio Carlos Zago, assistente técnico do Shakhtar Donetsk.

Katia Christodoulou - 20.fev.2014/Efe
O lateral direito Danilo Silva (à direita), do Dínamo de Kiev, no jogo diante do Valencia em campo neutro, no Chipre
Danilo Silva (à dir.), do Dínamo, no jogo ante o Valencia em campo neutro, no Chipre, pela Liga Europa

Danilo Silva não conhece casos de brasileiros que tenham ido embora da Ucrânia. "Soube de outros estrangeiros apenas".

Contratado pelo Hoverla, o zagueiro Dirceu, 26, temeu continuar em Uzhgorod, no extremo oeste, quando aconteceram embates entre policiais e manifestantes nas ruas, em fevereiro. Preferiu retornar ao Brasil.

"Fez contrato de dois anos, ficou dois meses e voltou há 15 dias", narrou o supervisor do Londrina, João Severo.

Revelado pelo Flamengo, o meio-campista Léo Matos, 27, do Chornomorets Odessa, voou para o Brasil com a família, mas precisou se reapresentar ao time depois de anunciarem o reinício do campeonato, contou o preparador físico Michel Huff, do Metalist.

Huff também informou que uma lesão muscular e uma suspensão de dois jogos fizeram o meia Diego Souza, ex-Palmeiras, ir para o Rio de Janeiro com sua família.

Mas o Metalist deu prazo de duas semanas para ele voltar a Kharkiv, fundada pelos russos, antiga capital da Ucrânia, a 40 km da fronteira com a Rússia e onde houve confrontos entre grupos adversários.

"A gente fica assustado. O povo está bem revoltado e exigente. Não entendo muito o que falam na TV, mas a polícia reagiu de maneira brutal", havia dito Diego Souza à Folha em fevereiro, sobre as cenas em Kiev.

DESISTÊNCIA

O Arsenal de Kiev, vítima de graves problemas financeiros nas últimas temporadas, desistiu da competição e não participará do segundo turno.

O zagueiro Rafael Santos, ex-Atlético Paranaense, deixou o time.

"Os jogadores estavam há seis meses sem salário", afirmou Huff. "Os outros clubes até ofereceram ajuda para ele não sair do campeonato".

Editoria de Arte/Folhapress
Entenda a crise na Ucrânia

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