Folha de S. Paulo


Nuzman diz que preocupação com CBV é grande e pede apuração de denúncias

O presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e do Comitê Organizador Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman, disse nesta quinta-feira que soube das denúncias feitas contra a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) pela imprensa e que elas devem ser apuradas, mas admitiu preocupação.

"As nossas preocupações são grandes, não podia ser diferente. Devem ser apurados os fatos que estão sendo mencionados e prestado conta à sociedade", afirmou Nuzman, que foi presidente da CBV entre 1975 e 1997, quando passou o cargo para Ary Graça Filho, que teve o nome envolvido no escândalo denunciado pela ESPN.

Nuzman disse que ainda não falou com Ary Graça Filho, que desde 2013 é presidente da FIVB (Federação Internacional de Vôlei).

"O vôlei se tornou um exemplo de profissionalismo, de conquista e de resultados olímpicos e mundiais. E a estes atletas e técnicos brasileiros deve ser publicado o que existe e o que não existe. É uma questão que, a partir dos fatos que surgirem, deverá ter um resultado final. Mas o respeito aos atletas deve ser mantido", disse Nuzman, no Rio de Janeiro, na apresentação de um novo patrocinador para a Olimpíada do Rio, em 2016.

Rio 2016/Alex Ferro
Nuzman (à dir.) em evento de assinatura de contrato com novo patrocinador da Rio-2016
Nuzman (à dir.) em evento de assinatura de contrato com novo patrocinador da Rio-2016

CRISE

A CBV anunciou esta semana que vai contratar uma auditoria externa para avaliar contratos de terceirização de serviços assinados pela entidade na gestão de Ary Graça Filho.

Desde o ano passado, Walter Pitombo Laranjeiras, conhecido como Toroca, vice da CBV há cerca de 30 anos e também presidente da Federação Alagoana de vôlei, assumiu a presidência da CBV.

A decisão da confederação ocorre após denúncias feitas pela ESPN, revelando que duas empresas de dirigentes da própria CBV e da FIVB receberam R$ 10 milhões cada uma para intermediação -ou seja, comissões- sobre contratos negociados diretamente com patrocinadores, como o Banco do Brasil.

Segundo a entidade, os contratos envolvidos na denúncia estão suspensos. Um preventivamente e outro desde encerrado no ano passado.

No primeiro caso, a empresa SMP, do ex-superintendente geral da CBV, Marcos Pina, recebeu os R$ 10 milhões para intermediar contratos de patrocínio da entidade. Entre eles, o do principal patrocinador do vôlei, o Banco do Brasil. O banco e a CBV dizem que o contrato foi assinado diretamente entre as partes, sem intermediários.

O acordo da CBV com o Banco do Brasil vai até 30 de abril de 2017 e prevê confidencialidade em relação ao valor do patrocínio. Por meio de sua assessoria de imprensa, o banco diz que não sabia da intermediação, "solicitou explicações à CBV e aguarda a resposta da entidade". O primeiro contrato entre as parte é de 1991 e o atual foi assinado em 2012.

Em entrevista à TV Globo, Marcos Pina afirmou que o contrato da SMP com a CBV foi assinado em 2012, quando ele não era funcionário da entidade. Ele disse ainda que o contrato é lícito, foi avaliado por auditoria externa, aprovado e consta no balanço da CBV.

Alexandre Arruda/CBV
Fábio Azevedo (ao fundo) e Ary Graça Filho em evento da CBV
Fábio Azevedo (ao fundo) e Ary Graça Filho em evento da CBV

Já a segunda denúncia da ESPN diz que a empresa S4G Gestão de Negócios, de Fábio Dias Azevedo, atual diretor geral da FIVB, recebeu os R$ 10 milhões por dois contratos de prestação de serviços e assessoria comercial. A empresa, porém, teria sido aberta três dias antes da assinatura dos contratos. Azevedo também trabalhou na CBV na gestão de Ary Graça Filho.

De acordo com a entidade, a auditoria, que complementará processo de revisão interna já iniciado pela instituição, irá incluir a apuração das denúncias.

"O objetivo é ter um diagnóstico preciso do impacto desses contratos para a instituição. E, a partir dos resultados da auditoria, definir as medidas que serão adotadas. A escolha da empresa de auditoria deverá ser definida nos próximos dias", diz nota da CBV.

A CBV diz ainda que "todos os contratos mencionados nas denúncias tiveram seus pagamentos suspensos preventivamente ou já foram cancelados".

O contrato com a S4G Gestão de Negócios, de acordo com a CBV, "foi rescindido no ano passado". Já "o contrato com a SMP, que previa serviços de assessoramento e planejamento, foi suspenso preventivamente para permitir a realização do processo de auditoria", respondeu a assessoria de imprensa da entidade à Folha.

O ex-superintendente-geral, Marcos Pina, foi afastado do cargo. Ele havia assumido a posição de chefia na entidade em setembro passado, mas já trabalhara na confederação entre 1997 e 2000. Em seu lugar está Neuri Barbieri, presidente da Federação Paranaense de Vôlei.

"Iremos realizar uma revisão completa de todos os contratos de terceirização de serviços para tomar as providências necessárias caso problemas sejam detectados", afirma Barbieri, novo superintendente-geral da CBV, no comunicado da entidade.

Divulgação/CBV
Marcos Pina (à esq.) com companheiro de vôlei de praia Elito
Marcos Pina (à esq.) com companheiro de vôlei de praia Elito

CBV

No início deste ano aconteceram mudanças na gestão da CBV.

Radamés Lattari, técnico da seleção masculina na Olimpíada de Sydney, em 2000, passou a ser o novo diretor de eventos. A nova equipe de gestão ainda conta com Paulo Márcio (para cuidar das seleções), Marcelo Wrangler (vôlei de praia), Renato D'Avila (competições nacionais) e Carlos Luiz Martins (relações externas).

A CBV também mudou a composição do Comitê Gestor da Superliga no início de 2014. Os ex-jogadores Renan dal Zotto e Leila Gomes passaram a trabalhar com Luiz Eymard e Renato D'Avila. Eles estavam sob o comando de Marcos Pina até o mês passado.


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