Folha de S. Paulo


Chipre unifica seu futebol, mas país continua dividido

O Chipre se divide na parte turca do norte e na grega do sul, há quase 40 anos. O futebol dessas duas metades se separou antes da cisão total na ilha europeia. Mas a Associação de Futebol Cipriota (CFA) e a a Associação de Futebol Turco-Cipriota (TCFA) assinaram, nesta terça-feira, um acordo provisório de unificação para desenvolver o esporte local.

Após meses de consulta e discussão, o acerto foi formalizado pelos presidentes das duas entidades, na sede da Fifa, na cidade suíça de Zurique.

Estiveram presentes ainda os presidentes da Fifa, Joseph Blatter, e da Uefa, Michel Platini, que devem estar em lados contrários na próxima eleição do cargo máximo da federação internacional, em 2015.

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República de Chipre

"Ambas as associações estão oferecendo ao mundo um excelente exemplo de como o futebol pode construir pontes e unir as pessoas depois de um longo período de conflito", disse Blatter.

A união no futebol não muda a situação política do Chipre e será provisória até que a divisão nacional seja solucionada.

A CFA, que é membro da Fifa e da Uefa, ao contrário da TCFA, está encarregada de organizar, administrar e controlar o futebol cipriota, afirmou a entidade europeia. O órgão turco-cipriota se tornará integrante da associação cipriota, e todos os seus clubes também serão membros indiretos.

A seleção cipriota jamais participou de um Mundial ou de uma Eurocopa. A melhor campanha de um clube do Chipre na Liga dos Campeões foi do Apoel Nicósia, eliminado pelo Real Madrid nas quartas de final de 2012.

A DIVISÃO

Colônia britânica no século 19, o Chipre conquistou independência em 1960 e, desde então, é palco de conflitos sectários entre cipriotas das etnias grega e turca.

Em 1974, aproveitando um golpe de Estado de gregos nacionalistas a favor da anexação de Chipre à Grécia, a Turquia invadiu o país. Um cessar-fogo dividiu a ilha em duas --o sul sob administração grega, o norte, turca. Autoproclamado República Turca de Chipre (RTNC) em 1983, porém, o país não é reconhecido por nenhuma outra nação, exceto a Turquia.

As duas nações cipriotas estão separadas pela chamada Linha Verde, que é controlada pela ONU (Organização das Nações Unidas).

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

Ambas as economias permaneceram totalmente isoladas uma da outra, e a RTNC, além das receitas por sua produção agrícola, turismo e cassinos, sobrevive apenas graças à transferência periódica de dinheiro do governo turco.

Em 2003, as fronteiras entre as duas áreas do país foram abertas para permitir a circulação de pessoas e de mercadorias.

A capital do país --internacionalmente, o norte é um território ocupado-- foi estabelecida em sua maior cidade, Nicósia.

Chipre é potência turística, pelas praias e pelo patrimônio histórico, e paraíso fiscal. Estima-se que seu setor bancário seja oito vezes maior do que seu PIB, o que contribuiu para tornar impossível o resgate de suas instituições financeiras pelo próprio governo.

O Reino Unido ainda mantém duas bases militares em Chipre, consideradas Território de Ultramar Britânico: Akrotiri e Dhekelia.

Um dos entraves da União Europeia para aceitar a entrada da Turquia no bloco é que o candidato à adesão reconheça a República de Chipre.

O ministro turco para Assuntos Europeus, Egemen Bagis, disse esperar que os 28 países "convençam a administração greco-cipriota a retirar os obstáculos à abertura" de outros dois capítulos de negociação, sobre os direitos fundamentais, a justiça, a liberdade e a segurança.


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