Folha de S. Paulo


Brasileiros vão para outras corridas nos EUA, mas assumem medo de atentados

Duas explosões perto da linha de chegada, três mortos e 176 feridos. O suficiente para assustar maratonistas que estão embarcando para uma prova nos Estados Unidos. Não para cancelar a viagem de alguns brasileiros ouvidos pela Folha.

Apesar do atentando em Boston, o médico Silvio Tarnovschi, 55, e sua mulher Ana Lídia DiPiazza, 52, por exemplo, embarcam na quarta-feira da semana que vem para correr a Maratona de Nashville, dia 27.

"Estamos com um pouco de preocupação, confesso. Na hora que vi a explosão em Boston fiquei preocupado. Mas não menos do que quando vou andar por São Paulo. Recentemente fui assaltado em um restaurante. Não vou cancelar a viagem para ser assaltado num farol ou um bandidinho dar um tiro na minha cabeça aqui", disse Tarnovschi.

Ele vai para a oitava maratona, enquanto a mulher segue para a segunda participação. "Estou empolgado. Está tudo certo".

Apenas neste próximo fim de semana, serão mais de 20 maratonas nos Estados Unidos. Além de outra dezena de corridas de rua, em distâncias menores. Em uma delas haverá ao menos uma brasileira que correu a Maratona de Boston.

A psicóloga Kelly Mantoaneli, 42, vai de Boston para Nova York, onde, domingo, corre uma prova de 4 milhas (cerca de 6,4 km) no Central Park. Ela segue acompanhada do técnico Fábio Avelar, 33.

"Tenho alguns alunos presentes em outros eventos internacionais ainda esse ano e não vejo motivos para alterarmos essa programação, mas vamos ficar atentos aos próximos fatos. Os corredores brasileiros gostam muito das provas internacionais, principalmente nos EUA. Acho que isso não vai mudar, mas, ao mesmo tempo, dá uma ponta de insegurança em decidir quais provas são seguras ou não", diz Avelar.

"Não podemos ficar com medo até porque assim vamos ficar reféns dessa monstruosidade que essas pessoas fazem. Nós, treinadores, temos como papel orientar os nossos alunos na forma de se preparem com segurança e assessorar nos cuidados que devemos ter em provas no exterior. Não é motivo de pânico, mas, sim, de alerta", completa.

'VOLTAR OU NÃO VOLTAR?

A maratonista Angela Cardoso Machado também pretende continuar correndo provas no exterior. Porém, após completar os 42.195 metros em Boston, descarta participar de maratonas nos EUA.

"Acho que nos EUA vai diminuir [o número de corredores], sim. Se as pessoas podem correr em lugares seguros, pra que se arriscar? Minha próxima prova certamente não será aqui", afirma a paulistana graduada em Administração e pós-graduada em Gestão de Negócios.

"Não pretendo parar por conta disso [atentado], não. Foi um evento pontual e não deve se repetir. Tenho alguns amigos já inscritos em Chicago [Maratona em 7 de outubro] e Berlim [29 de setembro]. Mas ainda é muito cedo para saber se haverá repercussão ou desistências por conta disso."

O engenheiro Marcos Yamamoto, 45, correu a maratona da última segunda-feira e já voltou ao Brasil na mesma noite. Como conseguiu índice para estar na prova de 2014 graças ao bom desempenho (terminou em 3h17min), quer retornar a Boston no ano que vem.

"Já fiz 20 maratonas. Nunca vi isso [atentado]. Dá um medo agora, mas, depois, fiquei tão indignado que vou voltar ano que vem pra mostrar que não me abalei. Fiz tempo para correr lá de novo [é necessário ter um índice para correr em Boston]. Não quero deixar me abalar. Não vamos ficar desse jeito. Quero voltar ano que vem, dar força para evento. Incentivar. Não vamos deixar o terror vencer."

Yamamoto passou pela linha de chegada quase uma hora antes das explosões. Foi para o hotel e, do quarto, viu que fecharam as ruas e deram alerta vermelho na cidade. Com outras pessoas, precisou sair da região caminhando, pois não havia táxi nem metrô. Depois, pegou um ônibus para o aeroporto.

"A segurança no aeroporto era enorme, havia boato de fechar. Passei por fila de quase uma hora no raio x. Consegui passar, com mala. E o avião estava no horário. Mas, claramente, o nível de segurança e a preocupação eram visíveis. Ninguém sequer fazia piada. Havia muita preocupação com mais bombas", disse o engenheiro, já em São Paulo.


Endereço da página:

Links no texto: