Folha de S. Paulo


Discussão entre Butantan e Anvisa pode ir à Justiça

A discussão entre um ex-diretor do Butantan e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sobre o tempo de espera para que fossem autorizados testes de uma vacina contra a dengue pode acabar na Justiça.

Raw acusou a Anvisa de ter atrasado, em 2012, a autorização para a segunda fase de testes da vacina. O ex-presidente da agência, Dirceu Barbano, irá pedir que ele apresente provas sobre o caso.

"É inaceitável", afirma. "Isso não pode ficar dito por alguém sem que apresente evidências de que é verdade."

Barbano, que comandou a Anvisa por quatro anos, período em que o pedido foi realizado, diz que a análise da vacina "sempre teve prioridade" e que a autorização para a segunda fase de testes demorou por dúvidas da equipe técnica quanto à segurança dos voluntários.

Na época, a Anvisa fez cinco exigências de documentos para que os testes do instituto passassem à fase 2, momento em que a vacina passa a ser testada em humanos.

Uma delas, segundo Barbano, falava sobre a necessidade de adequação dos estudos a normas internacionais que preveem que vacinas que associam diferentes sorotipos de um vírus sejam primeiro testadas separadamente e, só depois, em conjunto.

"É como se tivesse que testar vacina contra o tipo 1, 2, 3 e 4 separadamente para depois fazer o teste da vacina em conjunto", explica o ex-presidente, que nega ter participado da avaliação do caso."São questões que competem à área técnica", diz.

Com isso, a autorização levou um ano e quatro meses. "O tempo de resposta [a uma exigência] depende exclusivamente da empresa [interessada]", diz a agência, em nota.

Já Raw alega que houve um "atraso injustificado" e que, enquanto o Butantan esperava aval para a fase 2, a Anvisa concedeu autorização para que outra empresa que também buscava uma vacina, a Sanofi, passasse à fase 3, a última etapa de testes.

"Questionaram uma primeira vez, e mais quatro vezes em seguida, o que não tem cabimento. Isso atrasou um atendimento que poderia ser feito para a população." Barbano diz que as pesquisas estavam em fases diferentes e não podem ser comparadas.

Em nota à Folha o Butantan diz reconhecer a contribuição do professor Isaias Raw ao instituto, mas diz que ele há anos não responde pela diretoria, não exerce atualmente qualquer cargo no corpo diretivo e nem expressa sua opinião. O Butantan diz compreender e respeitar o papel da Anvisa e do Ministério da Saúde, e o da empresa Sanofi Pasteur, com a qual, inclusive, tem parcerias para outros produtos biológicos, como a vacina da gripe.


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