Uma faculdade particular da zona leste de São Paulo forneceu diplomas falsificados para seus próprios alunos.
A fraude foi descoberta no início do mês por um grupo de ex-alunos da Faculdade Santa Izildinha, de São Mateus, ligada ao grupo Uniesp. Eles já identificaram cerca de 50 documentos inválidos.
Zanone Fraissat/Folhapress | ||
Leila Oliveira e Liliane Rodrigues receberam diploma fraudado de faculdade |
Pela regulação do ensino superior, os diplomas de faculdades precisam ser registrados e validados em alguma universidade (instituição com maior autonomia). Para isso, a Santa Izildinha pagaria para a USP R$ 90 pela chancela de cada diploma –que deve receber um carimbo e assinatura no verso.
Estudantes que se formaram descobriram, no entanto, que os números de registro de seus documentos não constavam dos arquivos da Universidade de São Paulo. Além disso, a assinatura de um suposto diretor da instituição também foi forjada. O nome de Silvio Donizete Santos, que aparece nos documentos, se refere a um funcionário que já se desligou da faculdade, em 2013.
Esse ex-diretor registrou, inclusive, um boletim de ocorrência em fevereiro por não reconhecer a assinatura "Silvio Santos" como sendo a dele. Procurado pela Folha, ele não quis se manifestar. A faculdade diz que instaurou uma sindicância interna e que está colaborando com as autoridades na investigação.
Alunos de pelo menos quatro dos sete cursos da faculdade foram vítimas dos diplomas inválidos. "Encontramos diplomas de alunos formados em anos e cursos diferentes, e com um mesmo registro", diz Liliane Rodrigues, 26, formada em letras em 2014. Rodrigues teme não resolver a situação com rapidez e não poder assumir um cargo na prefeitura, para o qual já foi aprovada em concurso.
A ex-aluna Leila Michele de Oliveira, 37, é outra da turma que descobriu a fraude. "De mais de 50 alunos com quem falamos, só dois diplomas estavam regulares", afirma. Oliveira ainda reclama que a faculdade não oferece explicações sólidas.
A Faculdade Santa Izildinha foi comprada pelo grupo Uniesp em 2011. A faculdade e os cursos oferecidos são credenciados regularmente no Ministério da Educação. Segundo a pasta, "caso seja constatado que a fraude é perpetrada pela própria instituição de ensino, caberá a aplicação das penalidades".
A USP diz que pode suspender o cadastro da faculdade e o registro de seus diplomas. A Uniesp tem histórico de irregularidades no Fies (financiamento estudantil). Ela já foi punida pelo MEC e teve de assinar um termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público Federal.
Entre os problemas, registrava no Fies alunos em cursos diferentes, e mais caros, do que eles de fato cursavam. Assim, garantia repasses maiores do governo.
REGULARIZAÇÃO
O grupo Uniesp, que controla a Faculdade Santa Izildinha, reconhece as irregularidades nos diplomas, mas não soube indicar quantos tiveram registro forjado.
Em nota, ele diz que "auditará todos os diplomas já emitidos" e lamentou pelo ocorrido. O grupo Uniesp afirma que uma sindicância interna foi instaurada e que a empresa está colaborando com as autoridades.
"[O grupo] já se reuniu com o departamento de diplomas da USP (...) e reforça que serão tomadas todas as providências para regularização dos diplomas", afirma. Em nota publicada no site da faculdade, a Uniesp chegou a culpar uma ex-funcionária, que teria sido demitida.