Folha de S. Paulo


'Mudança cria problema', diz professor sobre currículo flexível em escolas

Reynaldo Fernandes, professor de economia da educação da USP, afirma que a flexibilização do currículo do ensino médio pode criar um problema se não for acompanhada de mudanças na forma de seleção dos vestibulares.

A flexibilização do currículo do ensino médio da rede pública de São Paulo, proposta pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB), será discutida a partir da semana que vem na Assembleia Legislativa em meio à divisão de educadores sobre sua eficácia e sob pressão do sindicato dos professores –que se opõe à ideia.

O projeto encaminhado em regime de urgência à Casa prevê que os alunos possam escolher parte das disciplinas nas escolas estaduais durante essa etapa do ensino.

*

Folha - A ideia de flexibilizar o currículo do ensino médio é positiva? Qual seria o impacto na aprendizagem dos estudantes?

Reynaldo Fernandes - Acho que flexibilização pode ser importante quando é para as pessoas tomarem mais o caminho que elas gostam, querem e têm interesse, não diretamente para a aprendizagem de determinadas disciplinas. A grande dificuldade é o depois. Se os vestibulares continuarem pedindo tudo igual, acaba criando um problema lá na frente.

Como seria a integração desse novo modelo de ensino médio com a universidade, por exemplo?

Hoje os vestibulares pedem frequentemente, mesmo quando usam o Enem, peso igual para todas as disciplinas. Então, para fazer letras, tem que ter bom desempenho em física. Esse é o problema.

Não adianta mudar o ensino médio se as coisas que eu tirei peso continuam sendo pedidas para as pessoas entrarem nas universidades. Em relação à flexibilização em SP, ela não é muito clara ainda.

Esse currículo flexível também incluiria disciplinas complementares, como música ou teatro? O que esse tipo de disciplina agrega ao estudante nessa etapa?

São disciplinas bem-vindas, mas, se está faltando professor das matérias básicas, querer mais disciplinas é complicado. Essas respostas não podem ser dadas sem olhar como o sistema está sendo pensado. As matérias básicas já estão cobertas? Se não estão, é melhor contratar profissionais para as matérias que estão faltando.


Endereço da página:

Links no texto: