Folha de S. Paulo


Mãe de crianças pequenas segue seu sonho estudando engenharia on-line

A técnica em segurança do trabalho Aline Fontana, 28, sempre quis ser engenheira, mas a demanda por atenção dos dois filhos pequenos a impedia de frequentar aulas presenciais em uma universidade. Com ajuda do marido, descobriu um curso a distância na área, se matriculou e agora está a três semestres da graduação.

Karime Xavier/Folhapress
Aline Fontana, 28, com seus dois filhos pequenos, estuda em casa
Aline Fontana, 28, com seus dois filhos pequenos, estuda em casa

*

Desde menina meu sonho era fazer engenharia. Sou técnica em segurança do trabalho, mas, quando consegui emprego para pagar a faculdade, minha filha, a Ana Clara, de um ano, precisava de bastante atenção.

Como eu já a deixava o dia todo para trabalhar –entrava às 7h–, se eu fizesse faculdade, só voltaria para casa por volta da meia-noite. Moro na zona leste e a faculdade ficava na Barra Funda [zona oeste de São Paulo]. Eu iria conviver com minha filha somente no fim de semana.

Aos meus olhos, não tinha mais jeito. Foi então que meu marido, Ricardo, disse que eu deveria entrar no site da Uninove. Por curiosidade, entrei. Tinha o curso EaD [Educação a Distância] de Engenharia de Produção.

Fiz a inscrição e passei no exame presencial. Sou da primeira turma desse curso. Já estou entrando no sétimo semestre –são dez ao todo.

Penso que os estudos são um bem para meus filhos. Digo no plural porque tive outro bebê, o Davi, que agora está com quatro meses. Não estou mais em trabalho fixo, só faço "free-lance" de assistência pericial em processos trabalhistas, em parceria com o escritório do meu marido, que é advogado.

Um dia, o Ricardo disse: "Vamos ver se você consegue ficar em casa só estudando". Cortamos gastos, tirei minha filha da escola. Em nenhum momento tranquei o curso.

A última prova do semestre tinha de ser presencial. Durava das 8h às 11h30. Levei meu filho e saía da sala para dar de mamar. Voltava para continuar a prova e deixava o Davi com meu marido.

Cuido das crianças o dia todo. Nos horários em que tenho chat ao vivo, o Davi fica no meu colo. Se ele dorme, coloco-o no berço. Faço as atividades quando eles estão na cama. Fico muito cansada. Chego a estudar de madrugada, até as 2h, 3h.

Às 9h, a Ana Clara, que está com três anos e nove meses, acorda, e o bebê não tem horário para mamar. Então, estudo de quatro a cinco horas por dia –duas de manhã e três à noite.

Apesar do cansaço, meu desempenho é bom, minhas notas são acima da média. Não peguei dependência, não precisei fazer prova de reposição. Mas é complicado administrar bebê, filha pequena, faculdade e marido.
Minha motivação principal de fazer EaD é não deixar meus filhos. E, também, não ter obrigação de estar na faculdade todos os dias.

Claro que há desvantagens, porque, como o curso é difícil, puxado, às vezes não entendo nada da matéria.

Há encontros on-line entre nós, alunos, e o professor. Mas é diferente quando você está na sala, tem uma dúvida e o professor explica.

Uso a internet e recorro a livros e amigos que estudam presencialmente. Sinto falta de um professor comigo. Tenho dificuldades, sim. Não sou autodidata.

Ainda vou buscar minha pós-graduação em segurança do trabalho para poder atuar como perita. Até lá, meus filhos vão estar maiores, talvez consiga fazer presencialmente. A pós é um pouco mais importante.


Endereço da página: