Folha de S. Paulo


'Reprovação não é para controlar a classe', diz secretário

O secretário da Educação, Cesar Callegari, afirmou que a preocupação do governo é que não haja reprovação indiscriminada de alunos após a mudança nos ciclos.

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Folha - Há recomendação para não reprovar os alunos?

Cesar Callegari - Temos a preocupação de que a promoção ou a retenção de um aluno não se dê apenas por meio de uma média de notas bimestrais. O estudante teve [as notas bimestrais] 3, 2, 2, 4 e, como ficou tudo no vermelho, precisa ser reprovado. Não é isso [que queremos].

Queremos avaliação de um processo inteiro. As escolas têm essas recomendações claras, está em portaria, para que não se crie artificialismo na retenção das crianças. Às vezes, os professores se valem dessa ferramenta não necessariamente para processo pedagógico mas como um meio de controle da classe.

Bruno Poletti/Folhapress
O secretário Cesar Callegari, durante evento em São Paulo
O secretário Cesar Callegari, durante evento em São Paulo

Outro dia vi manifestação do Sinesp insinuando que estávamos orientando escolas a não reprovar. Não temos interesse nenhum nisso. Não temos necessidade de ocultar ou revelar nada que seja devido. Mas ao mesmo tempo temos a responsabilidade, como educadores, de não criar um tropeço artificial para crianças e jovens.

Temos conversado muito com diretores regionais, eles com suas equipes. Em escolas em que percebíamos situação anormal, com perspectiva de muita repetência, tivemos trabalho junto com elas. Também com as que pareciam estar no paraíso.

Se não é apenas a nota que influencia na reprovação, o que mais é considerado?

Um conjunto de fatores. Como o menino chegou ao fim do ano? Ele pode ter chegado numa situação de crescimento, com viés de alta. Se a equipe identifica que esse menino passou a ter um viés de recuperação, de desenvolvimento, a instrução clara é que isso seja observado como ponto final.

Então, não é média, é a avaliação que o conselho de classe faz do menino. E com total autonomia. Eles podem decidir. Mas claro que podemos dar orientações.

Já é possível saber se a reprovação vai aumentar?

Concretamente, não. Acho que aumentará, mesmo comparativamente aos anos em que já era possível reter.

Muitos deficits educacionais que permaneceram ocultos acabarão se revelando. É uma grande mudança na rede. Todos os supervisores de ensino dizem que estavam destinados nos últimos anos a uma posição burocrática, para ver se os papéis estavam em ordem. Agora, são chamados a trabalhar questões de avaliações com a escola.

Aumentar reprovação não é um efeito negativo?

É o efeito verdade. O aluno retido não vai apenas repetir a mesma coisa. Ele será objeto de atenção pedagógica complementar. A mesma coisa para aquele que for promovido. Haverá equipes específicas para isso. (FT)


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