Folha de S. Paulo


Seca ameaça turismo em cidades mineiras

A decisão de reduzir ao nível mínimo a represa da usina Mascarenhas de Moraes, também conhecida como represa de Peixoto, levou as prefeituras de cidades à beira do reservatório a pressionarem o governo federal contra a adoção da medida.

Os municípios mineiros de Delfinópolis, São João Batista do Glória, Passos, Cássia e Ibiraci temem que isso afete o turismo na região, muito visitada por moradores de Franca (SP) e cidades do entorno.

O abastecimento de água em São João Batista e Passos também pode ser prejudicado, assim como o acesso a Delfinópolis, feito por barco.

A determinação do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) foi anunciada no dia 29 de abril. Na noite desta terça (20), o prefeito de Delfinópolis, Pedro Paulo Pinto (PMDB), se reuniria com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

A decisão do ONS foi adotada para garantir a produção de energia elétrica durante o período sem chuvas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, de maio a setembro, segundo informou Furnas, que opera a usina de Mascarenhas de Moraes.

As regiões enfrentam os níveis mais baixos de seus reservatórios para o mês de abril desde 2001.

Edson Silva - 14.mai.2014/Folhapress
Lago da represa de Furnas, com nível abaixo do normal no município de Carmo do Rio Claro (MG)
Lago da represa de Furnas, com nível abaixo do normal no município de Carmo do Rio Claro (MG)

A redução do reservatório pode chegar até o seu nível mínimo operacional, de 653,12 metros –elevação acima do nível do mar–, ou 10,38 metros a menos do que o nível da represa hoje.

Em Passos e São João Batista do Glória, que captam água na represa, serão feitas obras para adequar o sistema de abastecimento da cidade.

Pagas por Furnas, as obras vão levar a um ponto mais profundo da represa as bombas de captação de água. De acordo com a empresa, o novo sistema em São João Batista já está funcionando e o de Passos deve começar as operações ainda nesta semana.

Em Delfinópolis, a queda no nível do reservatório pode levar ao fechamento das balsas, que hoje são o principal meio de acesso à cidade. O caminho alternativo é uma estrada de terra que prolonga a viagem em 20 km.

"Seria o caos na cidade. Haveria um prejuízo muito grande", disse o presidente da Câmara da cidade, Mauro César de Assis (PDT).

Os procuradores dos cinco municípios, segundo ele, se reuniram para pedir que o Ministério Público acompanhe a situação.

Ele afirmou que o turismo é a principal atividade econômica do município, que aos finais de semana chega a receber de 2.000 a 3.000 pessoas. Delfinópolis tem 7.000 habitantes, segundo o IBGE.

Furnas informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que ofereceu à prefeitura as obras para realocar o porto das balsas e para construir a estrada até o porto.

Outro possível problema para Delfinópolis com a queda no nível da represa é que o esgoto da cidade, hoje despejado direto no reservatório, passaria a correr a céu aberto com o recuo da água. A cidade não trata o esgoto.

Furnas informou que está adotando "todas as medidas possíveis" no caso. O ONS não se manifestou.

PEIXES

A queda no nível da represa de Furnas, que atingiu seu menor índice para o mês de abril desde 2001, ameaça a produção de peixes nos municípios à beira do lago do reservatório.

Hoje há 173 piscicultores em 11 cidades na região de Alfenas (MG) que produzem 3,2 mil toneladas por ano, segundo o agrônomo Fernando Lino, da Empresa de Assitência Técnica e Extensão Rural.

O nível baixo da água impede a colocação dos tanques-rede, onde o lago secou, ou aumenta o risco de morte dos peixes, pois piora a concentração de poluentes na água.

"Acredito que metade dos produtores não recolocou os tanques na água", afirmou o piscicultor Francisco Alves. Há locais em que a água baixou 13 metros, de acordo com ele.


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