Folha de S. Paulo


Servente escapa de linchamento após briga em Araraquara

Confundido com o irmão, o servente de pedreiro Mauro Rodrigues Muniz, 37, foi espancado por cerca de 30 pessoas em Araraquara (273 km de São Paulo). Ele está internado em estado grave.

Os agressores usaram tijolos, pedras e paus na tentativa de linchamento. A agressão durou cerca de uma hora e aconteceu depois de uma briga familiar, no domingo (11) à noite, no bairro Maria Luiza, na zona norte da cidade.

Mauro vive com a mãe, o padrasto e uma irmã na casa, onde estavam seu irmão Luciano e a mulher, Adriana. Os dois começaram a brigar e Luciano, segundo depoimentos à polícia, agrediu a mulher.

Amigos e familiares dela, que moram no mesmo bairro, foram avisados e seguiram até o local para defendê-la.

"O Luciano fugiu sem que ninguém visse, antes mesmo da chegada da PM e da ambulância [para socorrer a mulher]", afirmou a faxineira Vanessa Cristina Muniz, irmã de Mauro e Luciano.

Assim que Adriana foi levada para o hospital, o grupo passou a jogar pedras na casa, e Mauro, que não tinha envolvimento com a briga, foi saber o motivo do tumulto.

Ao chegar do lado de fora da casa, Mauro foi atingido por um pedaço de madeira e caiu no chão. Foi nesse momento, segundo depoimentos à polícia, que a multidão o levou para o meio da rua e passou a agredi-lo.

"Tentaram passar a roda de uma moto na cabeça dele, mas a família conseguiu impedir", disse o delegado Elton Negrini, da DIG (Delegacia de Investigações Gerais), que apura o caso.

Edson Silva/Folhapress
Denise Muniz, 28, irmã de Mauro Muniz, que foi espancado em Araraquara
Denise Muniz, 28, irmã de Mauro Muniz, que foi espancado em Araraquara

Durante as agressões, familiares de Mauro gritavam às pessoas que estavam confundindo os irmãos, mas o espancamento prosseguiu.

"Teriam dito que não importava [a confusão] e que sendo irmão iria pagar do mesmo jeito", disse Negrini.

A irmã de Mauro também foi agredida com uma paulada no braço esquerdo ao tentar defender o irmão.

"Parecia um pesadelo. Ele parecia um boneco no chão. Jogaram um braço dele para trás e pisaram em cima para quebrar. Ele ficou todo quebrado", disse.

Para o delegado Negrini, o caso é muito parecido com o que ocorreu em Guarujá, no litoral paulista. "As pessoas queriam fazer justiça com as próprias mãos", disse.

Segundo ele, ao menos seis pessoas acusadas de participar da agressão foram identificadas pela polícia e serão ouvidas. Responderão por tentativa de homicídio.

Dois telefones celulares abandonados na cena do crime estão sendo usados para identificar os demais autores da tentativa de linchamento.

Não há imagens das agressões gravadas nos aparelhos, segundo Negrini.

PACATO

Mauro é descrito por sua família como um homem calmo e que passava por um bom momento pessoal.

"Ele estava feliz porque conseguiu um trabalho com registro em carteira há uma semana", afirmou a irmã Denise Gabriela Muniz, 28.

De acordo com a Santa Casa de Araraquara, Mauro, que está inconsciente, sofreu fraturas na cabeça, nos braços e nas pernas.

Seu estado de saúde na noite de desta segunda-feira (12) era considerado grave pela equipe médica que o acompanha.


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