Folha de S. Paulo


Jorge Mautner volta a Ribeirão com seu show 'O Filho do Holocausto'

Depois de subir aos palcos de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) mais de 60 vezes desde a década de 1970, o bem humorado cantor, escritor, poeta e compositor Jorge Mautner, 72, volta à cidade e se apresenta no Sesc com sua banda na quinta-feira (3).

"Tenho muitas boas lembranças das apresentações na cidade, principalmente, do teatro de Arena", disse ele, referindo-se ao espaço cultural hoje fechado.

Mautner conversou com a Folha anteontem na condição de a entrevista durar dez minutos. Falou por mais de 40 minutos. "O [novo] show tem a ver com toda a minha literatura, a música e tudo o que eu faço em um momento incrível do Brasil. Vou contar um pouco da história do nosso país, como sempre faço."

O novo álbum, "O Filho do Holocausto", traz a trilha sonora do documentário homônimo lançado no ano passado sobre sua obra.

Em tudo o que faz, o cantor diz incluir a mensagem favorita que o acompanha desde a década de 50, quando criou o partido Kaos: "Se do Brasil nascerá a nova coisa, do Brasil virá a nova era!". O partido, contou Mautner, era anarquista e pacifista.

Juliana Torres/Divulgação
O cantor Jorge Mautner toca violino durante o documentário
O cantor Jorge Mautner toca violino durante o documentário "O Filho do Holocausto"; artista se apresenta em Ribeirão Preto no dia 3

O cantor diz usar a música para se comunicar com as pessoas e "compensar a falta de leitura das pessoas". Essa "filosofia" é usada desde 1958, quando compôs a letra de "A Bandeira do Meu Partido".

"Já que nem todo mundo lê, eu levava a informação para um público inato por meio da música, para ele compreender a realidade."

Para o show de quinta-feira, o cantor vai apresentar canções como "Babá de Babá", de Jackson do Pandeiro, e "Herói das Estrelas", que foi composta com Nelson Jacobina (1953-2012).

À Folha, Mautner lembrou que o início de sua paixão pela música foi num terreiro.

"Os meus pais fugiram do Holocausto e um mês depois eu nasci. Fui cuidado por uma babá que era filha de [pai de] santo e me levava toda semana ao terreiro. Os tambores tocavam e eu estava lá, em seu colo."

Atualmente, Mautner disse estar com a agenda bem corrida, mesclando shows, palestras e um portal online, o Panfletos da Nova Era.

Reprodução
Imagem de Jorge Mautner, provavelmente dos anos 1960, extraída do documentário feito para contar parte da sua vida
Imagem de Jorge Mautner, provavelmente dos anos 1960, extraída do documentário feito para contar parte da sua vida

MÚSICA E HISTÓRIA

O cantor ainda fez questão de citar a série de TV "Oncotô", que "conta a história do Brasil através dos olhares de José Bonifácio [1763-1838] e Joaquim Nabuco [1849-1910]".

"Jesus inventou o romantismo, os direitos humanos, o socialismo e inventou, através do livre arbítrio, o liberalismo. Então, tudo vem dele."

Sobre a falta de leitura das pessoas, ele diz que isso se deve às mudanças hoje. "[Antes] As escolas ofereciam aulas de português todos os dias, com literatura, redação. Hoje, o momento é outro."

E dá a "receita" de como resolver esse problema. Disse que inventou um "método errado" com a filha, a produtora de TV, Amora Mautner, 38. "Ela não gostava de ler até os 12 anos. Falei em aumentar a mesada dela em até dez vezes se começasse a ler. Então, ela se fascinou pela leitura. Deu certo! Mas não recomendo (risos)."

Informações sobre ingressos: 0/XX/16/3977-4477).


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