Em "Brás, Bexiga e Barra Funda", Alcântara Machado retrata o cotidiano de italianos na São Paulo dos anos 1920. Na obra, o autor constrói um tipo ideal do imigrante, em que se sobressaem a vivacidade e a capacidade de trabalho.
Romeu Ricupero era da terceira geração de uma família ítalo-brasileira do Brás, mas carregava na gênese a projeção feita pelo escritor.
Criado num cortiço com os dois irmãos, gostava de jogar bola e de brincar na rua. O diferente era o primogênito, Rubens –embaixador e ministro da Fazenda décadas depois, foi ele que ensinou os mais novos a estudar.
Deu que Romeu completou a escola, ao contrário da maioria dos amigos. Foi além: formou-se em economia e, três anos depois, em direito.
Optou pela carreira jurídica: entrou no Ministério Público em 1969 e, de 2000 a 2012, foi desembargador do Tribunal de Justiça do Estado.
O conhecimentos econômicos fizeram de Ricupero um juiz moderno. Especializado na área empresarial, era admirado pelo domínio em matemática e estatística.
Não foi só a destreza com os números que levou do primeiro curso: a mulher, Sylvia, era a bibliotecária da Faculdade de Administração e Economia da USP.
Expansivo e barulhento, chegado em Chuck Berry e Little Richard, se sentia desconfortável em ambientes requintados. Gostava da cantina Castelões, no bairro de origem.
"Falava com qualquer pessoa sem condescendência ou superioridade", diz o filho, Marcelo. Sempre foi, afinal, um homem do Brás.
Morreu no dia 18, aos 75. Deixa mulher, irmãos e filho.
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