Folha de S. Paulo


Países com zika deveriam liberar aborto, afirma parlamentar dos EUA

Os países que estão no foco do surto de zika devem ser incentivados a investir no planejamento familiar, defendem membros do Congresso dos Estados Unidos.

Crenças religiosas não devem ser impedimento para o direito das mulheres de usar contraceptivos e de abortar em caso de fetos com microcefalia, afirmaram os parlamentares durante um evento sobre o vírus e suas implicações para os EUA realizado nesta terça (15), em Washington.

"Sabemos que são países católicos e que tem leis contra o aborto", disse a deputada federal Katherine Clark. "Mas até o papa já admitiu o uso de contraceptivos durante o surto."

Outra deputada, Susan Brooks, propôs incluir o vírus da zika na lista de prioridades da agência federal de medicamentos dos EUA para o desenvolvimento de tratamento e vacina contra a doença.

Ela citou a preocupação com a grande quantidade de americanos que devem ir ao Brasil para a Olimpíada e disse que o investimento em pesquisa sobre o zika é não apenas uma questão de saúde, mas também de segurança nacional, já que um vírus pode virar arma biológica por obra de terroristas.

Editoria de Arte/Folhapress
Clique na foto e veja o especial sobre o vírus da zika e microcefalia
Clique na foto e veja o especial sobre o vírus da zika e microcefalia

Entre os palestrantes estava Jeffrey Crowley, que até 2011 era o "czar" do governo Barack Obama contra o HIV/Aids.

Para ele, uma lição do combate ao HIV para o surto do zika é lutar contra a estigmatização da doença e ouvir os infectados.

Um dos paralelos entre as duas doenças, segundo Crowley, é o desconhecimento em torno delas quando ocorreu o surto. "As pessoas têm medo. Não podemos esperar que as autoridades saibam tudo, mas elas têm que mostrar com clareza o que estão fazendo para enfrentar com o surto", disse à Folha.

EFEITO DA CRISE

No Brasil, as crises econômica e política ajudaram a agravar o surto do vírus da zika, disse a socióloga Jacqueline Pitanguy, da organização Cepia (Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação), do Rio de Janeiro.

Segundo ela, houve "cortes drásticos" nos recursos públicos disponíveis para a saúde.

A socióloga observou ainda que a crescente força de grupos religiosos no Congresso Nacional limita os direitos das mulheres e lembrou que o Brasil "tem uma das leis anti-aborto mais restritivas do mundo".

Além disso, afirmou, as prioridades políticas são outras. "O que o Brasil discute hoje é [a operação] Lava-Jato, disse.

O evento foi organizado por dois centros de estudo de Washington, Diálogo Interamericano e Instituto O`Neill de Direito de Saúde.


Endereço da página:

Links no texto: