Folha de S. Paulo


Litoral e interior de SP têm ao menos 15 casos suspeitos de microcefalia

O litoral e o interior do Estado de São Paulo têm ao menos 15 casos suspeitos de microcefalia em recém-nascidos, má-formação cerebral que pode trazer problemas graves ao desenvolvimento da criança.

Os casos foram registrados nas cidades de Campinas, São Vicente e Olímpia, segundo as próprias prefeituras. No balanço do Ministério da Saúde divulgado nesta terça-feira (8), no entanto, o Estado não aparece entre os 13 que têm casos suspeitos, além do Distrito Federal. De acordo com a pasta, há no país 1.761 casos suspeitos.

Infográfico: Entenda a microcefalia

A Prefeitura de Campinas, no interior paulista, investiga a relação do vírus zika com os dez casos de microcefalia em recém-nascidos registrados a partir da segunda quinzena de outubro na cidade. As possibilidades são grandes: duas das mães relataram às autoridades em saúde que apresentaram manchas vermelhas no corpo durante a gestação. A vermelhidão é um dos sintomas causados pelo vírus.

Os municípios tratam os casos de microcefalia como confirmados, diferentemente do Ministério da Saúde, que fala em suspeitas. O ministério ainda não confirma nenhum caso porque os dados que recebeu dos Estados foram enviados até o fim da semana passada, antes da implementação do novo protocolo, que reduziu o critério para diagnóstico de microcefalia em bebês não prematuros de 33 cm de perímetro cefálico para 32 cm ou menos. Segundo a pasta, a expectativa é ter os primeiros casos descartados ou confirmados até o fim desta semana.

De acordo com Brigina Kemp, diretora do departamento de vigilância em saúde de Campinas, a única suspeita é se os casos de microcefalia da cidade foram causados ou não pelo vírus zika.

A situação em Campinas é preocupante porque o município registra a pior epidemia de dengue de sua história, com 65.280 casos. Em 2014, foi a cidade recordista em dengue no Brasil, com 42 mil casos.

A dengue, a chikungunya e o vírus zika são transmitidos pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti. Apesar disso, o município não confirmou nenhum caso de zika até o momento. Em Sumaré, município vizinho, um homem teve a doença em maio.

Além disso, Campinas tinha média de um caso de microcefalia ao ano. A exceção foi o ano de 2011, com quatro casos.

"Estamos todos preocupados e atentos porque, apesar de não termos registrados casos de zika, não podemos afirmar que o vírus não circulou pela cidade", disse Kemp.

Segundo ela, o primeiro caso de recém-nascido com microcefalia em Campinas foi notificado no final de novembro. A criança, porém, tinha nascido no dia 15 de outubro. Ela não explicou o motivo da demora na notificação.

A segunda criança nasceu em 3 de novembro, e a notificação ocorreu no dia 25 do mesmo mês. "Já os demais casos foram notificados todos a partir desta data até hoje [terça-feira]. Não temos mais casos notificados", disse.

As mães e os bebês já passaram por exames para investigar a relação do vírus zika com a microcefalia. Foram colhidas amostras de sangue, urina e líquor para detectar anticorpos da doença, e os bebês fizeram também tomografia.

Os exames estão sendo avaliados pelo instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e não há previsão para divulgação dos resultados, de acordo com Kemp. Nenhuma das mães relatou ter viajado antes ou durante a gravidez.

Uma equipe de profissionais de saúde de Campinas está avaliando o histórico das mães e se tiveram doenças ou contato com doentes. Familiares também serão interrogados para saber se tiveram doenças.

Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, os município não são obrigados a notificar casos suspeitos de microcefalia. A pasta informou que não recebeu até o momento nenhuma notificação.

CAUSAS DA MICROCEFALIA

Dos dez casos, três são de mães que tiveram seus filhos na cidade, mas que moram na vizinha Sumaré. Em outro caso, a prefeitura investiga se o uso de drogas por uma mãe moradora de rua causou a microcefalia no bebê.

"A microcefalia pode ser causada por fatores biológicos –como a transmissão por mosquitos infectados–, genéticos ou externos, como o uso de drogas e o fumo. Estamos investigando todas essas possibilidades", afirmou Brigina Kemp.

Nenhum dado sobre as mães dos bebês foi revelado, mas quatro das moradoras de Campinas moram em bairros das regiões sul, noroeste e sudoeste da cidade, onde há muitos casos de dengue.

A diretora municipal afirmou que um comitê assessor será formado por especialistas convidados de universidades, como a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), para discutir os casos notificados. "O momento exige um esforço conjunto de todos os municípios, dos Estados e do governo federal para combater o mosquito Aedes aegypti porque, sem ele, não temos essas doenças", afirmou.

SÃO VICENTE E OLÍMPIA

São Vicente, na Baixada Santista, contabiliza quatro casos de microcefalia na cidade este ano: um em setembro, um em outubro e dois em novembro. No mais recente, registrado em 20 de novembro, a gestante relatou sintomas de dengue no quarto mês de gestação. Em 2014, o município teve apenas uma confirmação de microcefalia.

A prefeitura informou que todos os casos foram notificados ao Estado, mas a Secretaria Estadual da Saúde diz que não recebeu nenhuma notificação.

Por enquanto, também não há comprovação da relação desses casos de microcefalia com o vírus zika. A secretaria está investigando os prontuários das mães dos bebês que nasceram com suspeita de microcefalia para identificar a causa da doença. As informações analisadas incluem exames de pré-natal, antecedentes pessoais e familiares dos pais, além de informações sobre o nascimento da criança.

Não está prevista, no entanto, a realização de exames que confirmem a causa da microcefalia nos bebês, como tomografia ou ultrassonografia.

O diretor de Vigilância à Saúde de São Vicente, Marcello Ruiz, é enfático ao dizer que os quatro casos de microcefalia foram confirmados pelo perímetro cefálico inferior a 32 centímetros.

Ruiz cita que no último caso da cidade, confirmado em 20 de novembro, o bebê (uma menina) tinha 28 centímetros de perímetro de cefálico. "Não dá dúvida", afirma. Ele não soube informar os perímetros nos outros três casos, que foram registrados em setembro, outubro e novembro, mas garantiu que "eram bem diminuídos".

Questionado sobre a possibilidade de São Vicente investigar a relação com vírus zika por meio de exames laboratoriais, Ruiz afirma que essa iniciativa não partirá do município.

" [Esse exame] Tem um caráter epidemiológico e quem tem que conduzir isso é o Ministério da Saúde e o Estado. São exames caros, que não estão disponíveis [na rede pública]. O que cabe aos municípios é o combate do Aedes aegypti. Uma vez que uma gestante tenha pego esse vírus não tem mais o que fazer. Aí você já está lidando com um prejuízo. O papel do município é melhorar o combate ao mosquito, independentemente se é zika vírus ou outro vírus", diz Ruiz.

Em Olímpia, no interior, um bebê do sexo masculino foi diagnosticado com microcefalia após o nascimento, na sexta-feira (4). O perímetro cefálico dele é de 28 cm.

De acordo com a secretaria da Saúde da cidade, a mãe do bebê morava no interior de Pernambuco e chegou à cidade há cinco meses. O bebê não corre risco de morte e está se alimentando com leite materno. A mãe da criança também passa bem.

Amostras de sangue da mãe e do bebê foram coletadas e encaminhadas para o Instituto Adolfo Lutz para apurar se a doença tem ligação com a dengue ou com o vírus zika. Os resultados devem sair em até dez dias.


Colaboraram GILMAR ALVES JR., de Santos (SP), e KAIO ESTEVES, de Araçatuba (SP)


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