Folha de S. Paulo


Além de microcefalia, outros danos do vírus zika são alvos de investigação

Após a descoberta da ligação entre casos de microcefalia em bebês e o zika, pesquisadores agora suspeitam que o vírus esteja associado a outras complicações em recém-nascidos.

Segundo o infectologista Kleber Luz, do Instituto de Medicina Tropical do Rio Grande do Norte, outros dois quadros de complicações em bebês de mães que relatam terem tido sintomas do vírus na gravidez têm sido observados.

Editoria de Arte/Folhapress

Em um deles, diferentemente da microcefalia, os bebês nascem com o tamanho da cabeça normal. Mas exames já apontam sinais de calcificações no cérebro, o que indica que houve uma possível infecção congênita -passada de mãe para filho.

Os primeiros alertas surgiram há cerca de três semanas, após mães de bebês relatarem manchas vermelhas no corpo e intensa coceira durante a gravidez.

Desconfiados, pediatras pediram exames. "Algumas crianças estão nascendo com a cabeça de tamanho normal, possivelmente de alguma infecção mais tardia. O dano é menor esteticamente, mas funcionalmente é tão grave quanto", diz Luz, um dos primeiros a identificar a presença do vírus zika no Brasil.

"Certamente haverá um comprometimento ao desenvolvimento neurológico da criança ou retardo ao aprendizado."

Ao menos cinco casos já foram identificados em Natal, diz Luz. Também há relatos em Pernambuco.

Em outros casos, bebês apresentam sinais de má-formações articulares, nas mãos e pés.

A secretária de Vigilância em Saúde de Pernambuco, Luciana Albuquerque, confirma que esses registros têm ocorrido, mas em número "bem menor" do que os casos de microcefalia, por exemplo.

Ela frisa que os casos estão sendo investigados e que ainda não há comprovação de que estejam ligados ao zika. "Não sabemos a que está relacionado", afirma.

A Folha apurou que ambos os quadros já são discutidos em reuniões no gabinete de crise do governo federal, criado após o decreto de emergência nacional em saúde.

INVESTIGAÇÃO

Procurado, o Ministério da Saúde diz, em nota, que está investigando "criteriosamente" todas as possíveis consequências relacionadas ao vírus zika.

"Enquanto não forem encerradas as investigações, tudo será considerado e estudado. As informações serão atualizadas e divulgadas à medida que houver conclusões sólidas", informa.

Apesar de não ter observado diretamente os casos, para Rivaldo Venâncio, da Fiocruz do Mato Grosso do Sul, a ocorrência de novas manifestações clínicas "maiores e menores" associadas ao vírus zika já é esperada.

"Estranho seria se só tivesse casos gravíssimos ou muito graves", afirma.

Além do aumento de casos de microcefalia e outros danos em bebês, estudos também correlacionam o zika ao aparecimento de doenças neurológicas raras, como a síndrome de Guillain-Barré.

Desde maio, quando o zika foi identificado no país, Estados do Nordeste registram um aumento considerado incomum de casos da síndrome, que causa paralisia. A recuperação e a extensão das complicações variam conforme o caso.

Infográfico: Entenda a microcefalia


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