Folha de S. Paulo


Auditoria apontou necessidade de reparos na barragem que caiu em MG

Auditoria realizada em julho deste ano apontou necessidade de reparo na barragem do Fundão, a primeira a se romper e provocar o "tsunami de lama" em Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana (MG).

A análise, contratada pela Samarco, atestou "estabilidade da estrutura". Mas apontou dez medidas a serem tomadas para a manutenção da "estabilidade física".

De acordo com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais, que recebeu o documento, entre as recomendações está "reparar trincas e recompor as canaletas que apresentam problemas" e a adoção de medidas para "permitir o correto direcionamento das drenagens pluviais".

As auditorias são feitas anualmente por empresas contratadas das mineradoras que operam as barragens. Os relatórios são submetidas aos órgãos ambientais estaduais e ao DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral).

As recomendações, informou a secretaria, deveriam ser colocadas em prática no dia 10 de setembro, com prazo de conclusão entre dezembro deste ano e dezembro de 2016.

Procurada, a Samarco não respondeu até a conclusão desta edição se as recomendações foram adotadas.

Infográfico: Radiografia da Tragédia

Segundo o geólogo Fábio Braz Machado, diretor da Sociedade Brasileira de Geologia e professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), as recomendações não eram graves, mas exigiam atenção da empresa que opera a barragem.

"As recomendações mostram que a barragem não estava em condições plenas de funcionamento. Exigiria vistoria após a implantações recomendadas. Nenhuma delas graves mas que exigiriam atenção", disse.

A secretaria disse que a última fiscalização própria do órgão ambiental ocorreu por ocasião do pedido de licença para unificação das barragens do Fundão e Santarém, justamente as duas que romperam, em dezembro de 2013 e junho de 2014.

No ano passado, a Samarco inaugurou nova ampliação do complexo. O investimento, de R$ 6,4 bilhões, aumentou a capacidade de produção de minério em 37%.

HISTÓRICO

A barragem do Fundão entrou em operação em 2008, como alternativa a outra, de Germano, a principal do complexo inaugurado em 1976.

Em 2008, a Samarco inaugurou a expansão da produção da mina de minério de ferro Alegria-Germano. Isso ampliou a geração de rejeitos, o que demandou a construção de novas barragens para depósito do material.

De acordo com o professor José Francisco Prado Júnior, da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), os rejeitos não são tóxicos. Ele explicou que o minério da região de Mariana é retirado do Itabirito, rocha que tem um teor de ferro de apenas 45%. Os 55% restantes são areia e argila.

Editoria de Arte/Folhapress

ESTRAGO É INCÓGNITA

Mais de 30 horas depois do rompimento de duas barragens de uma mineradora na zona rural de Mariana (MG), ainda não era possível saber quantas pessoas estavam desaparecidas nem a extensão dos danos ambientais.

Até a noite desta sexta (6), uma morte havia sido confirmada e mais de 500 pessoas, que fugiram para a mata ou que ficaram ilhadas, foram resgatadas. Elas passaram por descontaminação para se livrar de resíduos de minério de ferro e produtos químicos misturados à lama.

A Samarco, que pertence à brasileira Vale e à australiana BHP e é responsável pelas barragens, confirmou 13 funcionários desaparecidos, mas Bombeiros nem Defesa Civil sabiam quantos moradores não tinham sido localizados.

A lama de rejeitos se espalhou por um raio de 80 km e ainda poderia se expandir. Entre os efeitos possíveis, mortandade de peixes, destruição da vegetação, assoreamento de rios e comprometimento temporário da captação de água.

Sem condições de acessar o vilarejo de Bento Rodrigues, que tem 492 moradores, equipes de resgate usaram um drone e três helicópteros na tentativa de achar sobreviventes. Só quando o barro baixar e o terreno estiver firme é que vão entrar à procura de corpos.

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As causas do acidente, que o Ministério Público classificou como o maior desastre ambiental da história de Minas, seguem uma incógnita.

A empresa diz que o conjunto de barragens foi fiscalizado em julho e estava em "totais condições de segurança". Disse que seguiu seu plano para emergências e alertou moradores por telefone.

Segundo a empresa, pequenos tremores de terra registrados na área duas horas antes do rompimento são uma das hipóteses avaliadas (a magnitude deles, porém, foi fraca, próxima de outros cem já registrados em território nacional nos últimos três anos).

Ela afirma que os resíduos que atingiram cinco distritos de Mariana não são tóxicos.

No ginásio para onde foram levadas centenas de desalojados, o clima era de desespero. Cartazes foram afixados em busca de parentes.

Segundo o prefeito de Mariana, Duarte Junior (PPS), moradores de outras localidades foram avisados a tempo. "No distrito de Paracatu a parte baixa onde estava a escola e as casas, infelizmente, não existe mais."

O governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), disse que é cedo para apontar as causas do acidente, mas que elas serão apuradas.

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