Folha de S. Paulo


Secretário diz que não interferiu em ciclovia que beneficiou sua família

O secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, disse na tarde desta terça-feira (22) que não interferiu nas mudanças de uma ciclovia da zona sul de São Paulo investigada pelo Ministério Público . A ciclovia Alexandre Dumas, em Santo Amaro, foi implantada no ano passado, após uma polêmica mudança de rota. O projeto original previa que ela fosse instalada na rua Américo Brasiliense, mas foi descartado, e a via foi feita dois quarteirões abaixo.

Com a mudança de trajeto, como a Folha mostrou na semana passada, a ciclovia deixou de passar em frente a cinco imóveis da família do secretário Jilmar Tatto (Transportes), que também acumula a presidência da CET. A reportagem serviu de base para a Promotoria do Patrimônio Público e Social investigar o traçado adotado e os custos para a implantação.

"A decisão é técnica, junto com [a opinião de] moradores e comerciantes. Eu não interferi no momento da implantação, nem quando mudou da rua Américo Brasiliense para lá e não vou interferir agora. Eles [técnicos] que vão decidir", disse Jilmar Tatto.

Agora, a Prefeitura de São Paulo admite alterar o trajeto da ciclovia para uma reta. Questionada pela reportagem, a gestão Haddad (PT) afirmou, em nota, que "o corpo técnico da CET considera o traçado reto na rua Alexandre Dumas o mais correto", conforme parecer, e "está em tratativas com outros setores da prefeitura e com a população para viabilizar a melhoria."

Editoria de Arte/Folhapress
Prefeitura faz ciclovia que desvia de imóveis da família do secretário de Transportes

Na semana passada, Jilmar Tatto disse ao jornal "O Estado de S.Paulo" que não alteraria a rota como consequência da reportagem da Folha. Nesta segunda, ele disse que se referiu na entrevista ao projeto original, na rua Américo Brasiliense. "A [ciclovia na] Américo Brasiliense não volta porque não conecta aos modais e está fora das diretrizes. O certo é na Alexandre Dumas, em reta, porque o ciclista prefere em linha reta."

Ele disse que a ciclovia hoje desvia para ruas internas, predominantemente residenciais, porque os técnicos decidiram desviar de uma feira, um posto de saúde, escolas e paradas de ônibus quando implantaram a via na rua Alexandre Dumas.

Além dos desvios em ruas paralelas, a ciclovia muda de lado dentro da própria via, num zigue-zague que provocou reclamações dos moradores. Entre os argumentos deles contra o traçado atual, estão a baixa adesão da via pelos ciclistas e o risco de acidentes com carros, já que a via faz quatro curvas e atravessa a rua.

"Dizem que não implantou a ciclovia porque lá tem imóveis de parentes meus. Isso privilegia o imóvel ou atrapalha? Na frente do meu prédio tem uma ciclovia. Isso ajuda ou atrapalha?", questionou o secretário. Ele reforçou que "não existe ingerência política no traçado das ciclovias de São Paulo."

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), também negou que a mudança de curso de uma ciclovia em Santo Amaro, zona sul, tenha ocorrido para favorecer a família de Jilmar Tatto.

Para o presidente da seção paulista da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Marcos da Costa, há indícios de irregularidades nessa ciclovia porque a prefeitura fez um novo estudo sem a participação da população.

"Tudo isso deve ser investigado. Houve alguma razão para a mudança do traçado e, se foi beneficiar a família do secretário, é inadmissível."


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