Folha de S. Paulo


Pezão vai ao Complexo do Alemão, que enfrenta tiroteios diários

Na tarde deste sábado (21), o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), se reuniu durante cerca de meia hora com líderes comunitários do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio. O conjunto de favelas possui nove UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e tem sofrido com constantes trocas de tiros entre policiais e traficantes.

A última morte ocorreu na quinta-feira (19), quando Vanessa Aparecida de Abicassis, 40, foi atingida por um tiro de fuzil no peito. Ela estava na porta de casa, conversando com vizinhos, e o tiro teria sido disparado de uma mata localizada próximo a uma UPP. A Polícia investiga a autoria do disparo.

Na chegada de Pezão, um morador que socorreu Vanessa, segurava uma placa com a frase "Fora UPP".

"Virei as costas e a vi caída no chão. Com UPP não era para acontecer isso, mas eles trocam tiros e deixam moradores no meio, não há inteligência, investigação. Vivemos com policiais com fuzis nas nossas casas, nas vielas, sendo revistados diariamente. Quando era só tráfico não havia tanta bala perdida assim", afirmou Márcio de Alencar, 35, que trabalha no Alemão carregando material de construção.

Indagado sobre a avaliação do morador, Pezão foi categórico. "Gostaria de saber quem é esse morador. Pois acabei de sair de uma reunião onde todos querem a paz. E a paz vale para os dois lados: o policial e o morador. Quem não quer a paz é aquele que acha que pode ser o dono do território, o tráfico. Tivemos falhas e excessos policiais, também tivemos violência contra policiais. Nada disso é aceitável. Temos que perseverar", afirmou.

A reunião não pode ser acompanhada pela imprensa e nem gravada pelos representantes comunitários. Depois, Pezão foi assistir a uma apresentação de balé e de cantores de rap, que na música criticaram também os tiroteios.

Durante a apresentação, cerca de dez moradores tentavam chamar a atenção do governador aos gritos, dizendo que ele não se importava com a violência no complexo. O governador os chamou em particular e conversou com o grupo, que saiu sem falar com a imprensa.

O corpo de Vanessa foi enterrado neste sábado, no cemitério de Inhaúma, na zona norte do Rio. Ela deixou o marido e dois filhos, um com paralisia cerebral.


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