Folha de S. Paulo


Em meio a crise hídrica no Estado, Ribeirão não soluciona vazamentos

Com ao menos 12 cidades da região em racionamento, Ribeirão desperdiça água com vazamentos nas ruas, que são responsabilidade da prefeitura e do Daerp (departamento de água e esgoto).

A Folha constatou o problema em 12 bairros, tanto na periferia quanto em áreas nobres, como Ribeirânia e Alto da Boa Vista.

Ao contrário de municípios vizinhos, que adotaram o racionamento, Ribeirão tem abundância de água, em tese, por ser 100% abastecida pelo aquífero Guarani.

Apesar disso, falta água nos bairros por causa de problemas na distribuição.

Na manhã desta quarta-feira (4), em visita a Uchoa, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que o aquífero "tem uma capacidade hídrica muito privilegiada", frisando que a escassez de água não ocorre em todo o Estado.

Para a promotora Cláudia Habib, do Gaema (Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente), os vazamentos são "inadmissíveis" e "um absurdo". "Ser abastecido pelo aquífero não significa estar confortável", afirma.

Moradores dizem que, após informar a prefeitura sobre os vazamentos, a demora para os consertos é de, no mínimo, um mês.

Na Vila Guiomar, por exemplo, um vazamento já dura seis meses, segundo a dona de casa Renata Sabino, 33.

Ela disse que os moradores já protocolaram ao menos cinco pedidos no Daerp para o conserto. "Nenhum engenheiro passou aqui, nem para avaliar o problema", diz.

Editoria de Arte/Folhapress

Já na Ribeirânia, a demora para consertar dois vazamentos fez com que o asfalto se deteriorasse e buracos se abrissem na rua.

"Quanto mais se demora para consertar, pior fica a situação", afirma o biólogo Maurício Meirelles Castro, 30, morador do bairro.

Segundo Manoel Tavares, presidente da Associação Cultural e Ecológica Pau Brasil, o problema é que 70% da água distribuída não passa por reservatórios, o que ocasiona o rompimento da rede, que é antiga.

Ele também diz que a água desperdiçada veio das chuvas e demorou anos para ser acumulada. "Podemos não viver uma crise hídrica hoje, mas o desperdício pode ser refletido no futuro."

O Ministério Público fechou cerco contra o desperdício e abriu um inquérito para apurar perdas na rede de distribuição –de quase 50%, segundo a promotora.

De acordo com o Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), Ribeirão é o município que mais capta água do aquífero no país.

OUTRO LADO

Rede antiga, pressão da água nos canos e passagem de veículos pesados nas ruas. Essas são as justificativas da Prefeitura de Ribeirão Preto para os vazamentos de água.

De acordo com o Daerp, entre os bairros que sofrem com a rede antiga estão Campos Elíseos e Vila Tibério. "São localidades que não receberam planejamentos e investimentos no passado", informou o departamento, em nota.

A autarquia disse ainda que as demandas encaminhadas pela população são atendidas conforme a urgência, mas admite que os casos mais simples demoram até 15 dias.

Há casos que levam ainda mais tempo, diz, pois é necessário interromper o abastecimento de toda uma região.

Em 2014, o Daerp recebeu 12.303 solicitações de consertos de vazamentos nas ruas, das quais 754 ficaram pendentes. Já sobre vazamentos em calçadas, foram 8.719 solicitações de reparos –94 deverão ser executados neste ano.

Nesta quarta (4), a empresa Sanit, contratada pela prefeitura, deu início à operação de consertos dos vazamentos pela cidade.


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