Folha de S. Paulo


Paraitinga (SP) ainda tem casarões destruídos, 5 anos após enchente

No casarão fechado desde 2010, Antônio Augusto de Sousa, 65, o Peixinho, acha um porta retrato. Ele limpa o barro e reconhece o bebê na foto: "É o meu sobrinho".

O imóvel onde a imagem estava esquecida é um dos muitos ainda não reconstruídos em São Luiz do Paraitinga (a 182 km de São Paulo), cinco anos após uma enchente devastar a cidade.

Embora a maior parte das construções tenha sido refeita, mais de uma dezena de casas ainda está em pedaços.

Há muito trabalho pela frente (como reconhecem os órgãos do patrimônio) e imbróglios (que não se restringem à arquitetura) a resolver.

As cicatrizes permanecem expostas na cidade desde que, em 1º de janeiro de 2010, o rio Paraitinga subiu 11 metros com as chuvas e desalojou 5.050 pessoas -a população é de 10.726 habitantes.

A mais visível está na praça Oswaldo Cruz, onde um quarteirão inteiro é ocupado por ruínas. Uma das propriedades ali é disputada por 36 herdeiros. Outras esperam aprovação dos projetos.

Com o centro histórico tombado pelo Condephaat (conselho estadual de defesa do patrimônio) desde 1982, São Luiz já teve 19 casarões de famílias pobres restaurados pelo governo paulista.

O plano inicial era recuperar 22 casas, mas a verba acabou antes. "As obras eram muito mais complexas do que havia sido estimado. Com isso, verificou-se a necessidade de um novo convênio com a prefeitura", diz, em nota, a Secretaria da Cultura.

As propriedades de famílias com renda superior a dez salários mínimos são responsabilidade de seus donos.

O casarão de 1856 sobre a papelaria do Peixinho é um dos três que aguardam convênio. Lá, por 65 anos, viveu sua sogra, Maria Izabel Toledo, 85, que mora agora com o genro. "Ela só fala em voltar para casa. Hoje, toma cinco remédios por dia."

Afonso Pereira de Gouvêa, 85, também está ansioso para retornar ao casarão onde os pais se casaram, em 1912. Ele vive provisoriamente em outro imóvel.

MORTES

Muitos não sobreviveram para ver as reconstruções. O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional), que tombou o conjunto urbano de São Luiz em 2010, teve de cancelar um restauro por causa da morte de um proprietário.

"Tínhamos uma agonia de botar a cidade para funcionar logo. Depois da catástrofe, há um abatimento que gera até mortes. Um ano depois, 30 pessoas tinham morrido", diz Anna Beatriz Galvão, superintendente do Iphan em SP.

A avaliação tanto do Iphan quanto do Condephaat sobre o que já foi feito é positiva.

O primeiro órgão gastou R$ 9,5 milhões, e o segundo, R$ 24,8 milhões em reconstruções –e mais investimentos são esperados. As três igrejas já foram entregues. Devem ser feitos rua da música e soterramento de fios elétricos.

O prefeito Alex Torres (PR) é o mais otimista. "São Luiz está praticamente 100% reconstruída. O turismo voltou até mais forte."


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