Folha de S. Paulo


'Não vamos esperar outra tragédia para reagir', diz sindicato dos motoristas

O presidente do sindicato de motoristas e cobradores de ônibus de São Paulo, José Valdevan, o Noventa, disse na tarde desta terça-feira (4) que a paralisação da categoria amanhã está confirmada.

O protesto é motivado pelo aumento dos ataques a ônibus, que têm sido incendiados em toda a cidade desde o início do ano. Em outubro, o motorista John Brandão morreu após ter 70% do corpo queimado.

Segundo Noventa, os motoristas estão sendo orientados a cruzar os braços nesta quarta-feira (5) das 10h às 14h. Também haverá um ato no terminal Parque D. Pedro, na região central, no início da paralisação.

Ele afirma que o horário fora dos picos foi escolhido para minimizar o impacto para quem depende dos ônibus para ir e voltar do trabalho, mas que o protesto foi mantido porque "é preciso conscientizar a população".

O Metrô e a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) informaram que irão operar com frota máxima nos horários de pico desta quarta e que composições reserva poderão ser acionadas caso haja aumento de usuários durante a paralisação dos motoristas.

A Secretaria Municipal de Transportes afirma que irá "tomar todas as medidas na tentativa de diminuir transtornos à população". Serão acionados planos de emergência com ônibus reserva e a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) fará um "monitoramento intensivo no trânsito em toda a cidade".

Também foi pedido que a Polícia Militar faça um policiamento preventivo em 29 terminais de ônibus, com apoio da Guarda Civil Metropolitana.

MODA

O secretário municipal dos Transportes, Jilmar Tatto, e o secretário estadual da Segurança Pública, Fernando Grella, ligaram para o sindicato tentando marcar audiências e evitar a paralisação, segundo Noventa.

"Não adianta fazer reunião com secretário, todo mundo já sabe o que precisa ser feito. Mas a sociedade também precisa se conscientizar a assumir a responsabilidade", disse o sindicalista.

"O ônibus virou o culpado de tudo. Falta água, toca fogo no ônibus. A polícia troca tiro com bandido, toca fogo no ônibus. Virou moda, o ônibus paga tudo. Os motoristas estão trabalhando com medo. Não vamos esperar acontecer mais uma tragédia para reagir, uma grávida, um idoso, morrerem queimados."

Ele diz que, depois da paralisação, vai se reunir com as autoridades para defender mais apoio da polícia e da Guarda Civil Metropolitana nas áreas mais perigosas. Também pede que as linhas de ônibus sejam desviadas quando ocorrerem protestos e reintegrações de posse, por exemplo.

Em nota, o SP-Urbanuss (sindicato das concessionárias) afirma que "apoia a causa em prol de maior segurança", mas "não compactua com a paralisação dos serviços, que podem comprometer o atendimento à população".

INVESTIGAÇÃO

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse nesta terça que a polícia está empenhada em descobrir e prender quem faz ataques a ônibus.

"Espero que não haja nenhuma greve. Não tem sentido você penalizar a população. Você tem 'n' maneiras de chamar a atenção, de pressionar, de cobrar, que não seja a greve", disse o governador.

Segundo ele, a polícia tem trabalhado para prender os criminosos em menos de 24 horas após os ataques.

"Acho que seria importante a mediação com o governo do Estado para ter mais apoio da Polícia Militar", disse o prefeito Fernando Haddad (PT).

RAIO-x

8.809
é a frota de ônibus das 14 viações em São Paulo

800
linhas de ônibus são operadas pelas empresas

4,5 milhões
de viagens são feitas por dia, em média, nos ônibus das viações

118
ônibus de empresas de viações já foram incendiados em 2014, contra 53 no ano passado todo

Fonte: SPTrans; SP-Urbanuss


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