Folha de S. Paulo


Forças Armadas iniciaram ocupação do Complexo da Maré, no Rio

Após permanecerem por 1h15 nos acessos ao complexo da Maré, os 2.500 militares entraram por volta das 6h50 no conjunto de favelas da Maré. A ocupação não encontrou resistências.

Todos os carros e motos que saem do complexo de favelas foram parados pelos militares, que encontraram em uma viela no parque União, uma das favelas da Maré, dois carros com pneus furados a bala.

De acordo com os soldados, os veículos foram colocados no local para dificultar o acesso à comunidade. Os dois veículos são roubados.

Por conta de três blitzes na Linha Vermelha, sentido centro, o engarrafamento da via ocasionava reflexos na rodovia Washington Luís, na altura de Duque de Caxias e na estrada do Galeão, na Ilha do Governador.

Duas das paradas foram feitas por militares do Exército e uma pela Polícia Militar.

Os 2050 paraquedistas e 450 fuzileiros navais deixaram a Vila Militar, na zona oeste do Rio, por volta das 2h30, e às 5h30 ocupavam todos os acessos das quinze favelas que compõem o complexo.

Dois caminhões, com 22 militares cada, aguardavam a ordem do comando da operação para entrar no complexo pela Vila dos Pinheiros, onde às 8h estava previsto o hasteamento da bandeira nacional.

Para a operação, batizada de São Francisco, a Marinha dispõe de 12 veículos blindados e um helicóptero MH-16 Seahawk.

Uma das quatro pistas da avenida Brasil, que passa junto ao complexo, que estava bloqueada para o tráfego desde as 5h30, foi liberada por volta das 7h.

A movimentação dos militares, no entanto, não atrapalhou o cotidiano dos moradores, que saíram para trabalhar normalmente, passando ao lado dos veículos militares. Segundo os moradores, a noite na Maré foi tranquila.

A primeira fase da ocupação está prevista para se encerrar no dia 31 de julho. Na ocasião, o governo federal e o governo do Rio farão uma avaliação da necessidade de estender a operação até as eleições.

"A nova ação de apoio à segurança é uma grande satisfação para nós", afirmou o ministro da Defesa Celso Amorim. "Não é a primeira vez de apoio, e voltamos agora com o aspecto logístico e com os fuzileiros".

Para José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, a ocupação é uma vitória resultante de um bom trabalho em equipe. "A Polícia Federal tem feito prisões e apreensões importantes, e a Polícia Militar tem colaborado com o seu cerco. Em nome da presidente Dilma, gostaria de agradecer às Forças Armadas, que têm um importante papel na segurança do nosso país", disse.

O governador Luiz Fernando Pezão também elogiou o trabalho das Forças Armadas e afirmou que um pacote de serviços públicos chegará a Maré, entre os quais a primeira escola diurna de Ensino Médio a ser instalada na região.

O Complexo da Maré passará a ter 400 militares do Exército e da Marinha policiando suas vias 24 horas por dia.

A cada dia, 1.600 homens se revezarão em turnos de 6 horas, um aumento significativo se comparado com os 300 policiais militares que se revezaram durante a semana nas 15 favelas do complexo.

Como a escala de trabalho dos policiais militares prevê turnos de 24 horas de trabalho e 72 horas de folga, na prática, a cada dia, havia na favela 75 PMs.

Desde esta sexta-feira, militares do Exército já fazem um levantamento na favela. Neste primeiro momento da ocupação, as buscas vão se concentrar em casas que eram utilizadas por traficantes de drogas.

Os militares já sabem quais locais eram usados, até a semana passada, pelo traficante Marcelo dos Santos, o Menor P, preso há uma semana pela Polícia Federal.

De acordo com o levantamento, o criminoso teria uma casa como sua academia de ginástica e dormia em outros barracos na favela Vila dos Pinheiros, uma das 15 comunidades que formam a Maré.

Não é de hoje que os militares investigavam a comunidade. Menor P foi paraquedista expulso do Exército e aplicava treinamento militar aos homens de sua facção.

Um guarda municipal, informante do Exército, foi assassinado pelo grupo de Menor P, no ano passado.

Ainda de acordo com informações, o armeiro da quadrilha seria um ex-fuzileiro naval. Ou seja, tiveram treinamento nas duas forças de elite que ocupam agora a favela.

Os 450 fuzileiros que ocuparão a Maré foram chamados a participar da missão por conhecerem o complexo, que ocuparam nas eleições de 2010.

"Estamos usando toda a experiência adquirida nas ocupações anteriores. Acho que tudo será tranquilo, já que a Polícia Militar está há uma semana lá", afirmou o general José Carlos de Nardi, chefe do Estado Maior das Forças Armadas.


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