Folha de S. Paulo


Com ambulâncias 'ilhadas', pacientes usam avião em Rondônia

Enquanto o avião dos bombeiros de Rondônia ainda sobrevoa o aeroporto da capital, uma ambulância já aguarda na pista com o motor ligado. Dez pessoas descem da aeronave, e dois homens imediatamente são colocados no veículo, que parte rumo ao hospital de Porto Velho.

A cheia do rio Madeira isola municípios do interior e, consequentemente, cria outro problema: como levar pacientes para atendimento em Porto Velho já que as estradas estão interrompidas?

As pessoas precisam ser removidas já que os municípios do interior não dispõem da maior parte dos recursos que só a capital disponibiliza para atendimentos de emergência, urgência, eletivos e exames.

Avener Prado/Folhapress
Lelo Gomes de Souza, 68, e Cicero César, 43, usaram avião para receber atendimento medico na capital
Lelo Gomes de Souza, 68, e Cicero César, 43, usaram avião para receber atendimento medico na capital

Desde 14 de fevereiro, ao menos 200 pacientes –entre eles, bolivianos– já foram removidos dos municípios de Guajará-Mirim (a 328 km da capital) e Nova Mamoré (a 280 km) para atendimento médico na capital com aeronaves dos bombeiros do Estado e da Força Aérea Brasileira.

Na última terça-feira (18), a Folha acompanhou a chegada de um voo de Guajará-Mirim. "Tenho epilepsia e acabei sofrendo uma queda. Me enviaram aqui para Porto Velho para fazer exames", disse o eletricista Cícero César, 43, com o rosto tomado por hematomas.

Ao lado dele, o aposentado Lelo Gomes de Souza, 68, conta que borrifava veneno em sua plantação quando acabou inalando acidentalmente o gás. "No interior, não há atendimento necessário para avaliar o meu caso, por isso estou aqui."

Somente em Guajará-Mirim, 18 pessoas precisam de três sessões semanais de hemodiálise. Neste caso, para facilitar a logística, os pacientes são alojados durante a semana em Porto Velho, em abrigos cedidos pela Secretaria de Estado da Saúde.

Segundo o Corpo de Bombeiros, toda logística é planejada para evitar que um avião cruze Rondônia vazio. "Se um avião precisa ir a Nova Mamoré buscar pacientes, aproveitamos a viagem e já levamos, por exemplo, medicamentos e mantimentos", afirma o coronel Lioberto Caetano, chefe dos bombeiros.

Avener Prado/Folhapress
Defesa Civil do Estado de Rondônia transportam pacientes para atendimento medico na capital
Defesa Civil do Estado de Rondônia transportam pacientes para atendimento medico na capital

Em Guajará-Mirim, surge também a demanda da Bolívia, país que faz fronteira com o município brasileiro, separados apenas pelo rio Mamoré. A cheia atinge o município boliviano de Guayaramerin, fazendo com que a população busque apoio no Brasil.

"Como a Bolívia também é afetada pela cheia, os bolivianos estão procurando atendimento médico em Guajará-Mirim. Sem opção, eles também acabam sendo encaminhados a Porto Velho", diz a secretária de Saúde de Guajará-Mirim, Alexsandra Tártaro.


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